viernes, 17 de febrero de 2012

Os cabides da desonra na Charge do Dias

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Em 9 de agosto de 2011 aqui publicamos um texto chamado Os cabides da desonra, curtinho, que em parte vai ao final desta postagem, tratando de sentimentos pela violência que muitos sofremos na mocidade. O texto teve somente uma transcrição, no site Café História, o que muito nos honrou, malgrado a omissão da autoria.

Pois  bem: com a decisão tomada ontem pelo Supremo Tribunal Federal, de finalmente validar a Lei da Ficha Limpa, sem grandes surpresas nos votos vencidos, posto que de contumazes protetores de certos interesses, brilha uma esperança. A lei é um ótimo começo.

Talvez os meninos de agora não venham a ser tão humilhados. Não se trata apenas de o jovem se ver em situação financeira penosa, não, gente de fibra trabalha em qualquer coisa, estuda à noite, se vira, trabalho sempre há para quem quer. A dor maior vem ao ter que assistir, impotente, as nulidades triunfarem, entrando pela porta dos fundos.

Obviamente que não estamos falando dos completamente desvalidos, se falarmos destes a raiva cresce demais: estamos falando dos que têm comida - arroz e feijão já  está bom - e um lugar para morar, e uma escola pública para frequentar, quando os pais atinam que esse é o caminho.

Sim, claro que sabemos que os patrunfos tentarão dar outro jeito, possivelmente darão, mas certo é que aos poucos estão desaparecendo os vãos de escada onde sempre acertaram as suas negociatas, feito cadelas traiçoeiras e desavergonhadas.

Então, a pedido da tribo da palafita, os boêmios deram especial atenção a esse tema, de modo que hoje há parcialidade nas escolhas, de bom coração. Na segunda ronda da Charge do Dias, mais tarde, irão as escolhidas originalmente, havendo.

O Beco do Oitavo escolheu a obra do DUM, do Hoje em Dia (Belo Horizonte, MG).





O Botequim do Terguino fechou com o FRANK, de A Notícia (Joinville, SC).




A senhorita Leila Ferro optou pelo MIGUEL, do Jornal do Commercio (Recife, PE).




OS CABIDES DA DESONRA

Como todos sabemos, os patrunfos, uma vez eleitos, tratam logo de arranjar uma boquinha para seus parentes, e vai a família inteira, os filhos dos financiadores de campanha, cujos interesses serão protegidos cuidadosamente durante o mandato, a seguir a amante e seu primo, quando não algum amiguinho sigiloso da moça, depois os cabos eleitorais, e por aí vai.

O roteiro é tão antigo quanto dramático. Você tem 19 anos e está se matando de estudar para aquele concurso de dois salários-mínimos, para poder largar o empreguinho que tem e ajudar mais na renda da família. Permite-se uma descansadinha no sábado, e casualmente é sábado à noite e você está defronte ao bar na avenida principal da cidade, bebericando e conversando com os amigos, de a pé, com roupas comuns, sapatos comuns, bolsos demasiadamente comuns, e eis que de repente chega aquele antigo colega de aula, estacionando um conversível novinho em folha. Todo alegrão, roupas lindas, perfume caro, um artista de cinema. Logo mais no baile será o centro das atenções, quase todas as moças lhe lançarão olhares esperançosos. O quase vai por conta das suas ilusões, "aquela" de quem você gosta não, nunca. Nunca se sabe. Você se retira, ao tempo em que o sujeito é cercado por muitos conterrâneos, estes demonstrando felicidade em abraçar o "amigo", os coitados também anseiam por uma beirada na estatal. Logo, logo, o patrunfinho, pela força do dinheiro mal havido, também comprará um mandato. É o patrunfo do amanhã.

Tudo muito normal, uma vez que a prática é secular. Qual é mesmo a profissão do zé-bonito, tão novinho e já tão bem-sucedido? Acertou. Sim, parente de político. Tem um excelente salário para bater o ponto, quando bate - do mesmo modo que era esporádica visita no colégio -, mais mordomias, assistência médica de primeiro mundo, numa empresa sustentada com o sangue dos pés-de-chinelos.

É por estas e outras, caros amigos, que volta e meia dá vontade de pegar um pedaço de pau e incendiar o circo, com os ladrões, canalhas e hipócritas lá dentro. Sentimo-nos desonrados, junto com a nossa cidade, nosso estado e nosso país, vendo salários minguados, a fome, a falta de escolas, a falta de tudo. O sentimento de desonra, de revolta, é nosso, exclusivamente nosso.

Os patrunfos não sabem o que é honra nem vergonha. São mentirosos e covardes diante da vida.


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