Baseado em um episódio da guerra do Paraguai, a retirada da Laguna, esse romance nos dá uma visão crítica e solidária do homem brasileiro. Uma história de amor, aventura e denúncia.
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Deonísio da Silva, em interessantíssimo artigo falando das mazelas do nosso país, no que tange aos escritores, ao tempo em que exalta a Jornada de Literatura de Passo Fundo (íntegra em A casa do escritor brasileiro) finalmente escreveu:
"O Brasil real é bem diferente daquele apresentado por nossa grande imprensa. Quem quiser conhecê-lo ou se informar sobre o que acontece neste outro grande país não pode limitar-se à leitura de jornais como O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. São nossos maiores jornais, mas ignoram o Brasil. Os dois paulistas cobrem mais São Paulo. Os dois cariocas, mais o Rio. O resto do país depende dos jornais locais e regionais. Vale o mesmo para o rádio e a televisão.
Ando tão desanimado com nossa grande imprensa que pode até parecer encrenca ou má água que guardo em meu monjolinho interior. Mas, não. Água é para correr e tocar moinhos. Sofrimento é para sair na urina: o que não sai na grossa, que saia na fina. Se fosse ressentido, não seria assinante de dois grandes jornais e não compraria o terceiro nas bancas.
Em 1992, ganhei o Prêmio Internacional Casa de las Américas com o romance Avante, soldados: para trás. O júri foi presidido por José Saramago. Quem repercutiu foram amigos que trabalhavam nesses jornais, como Geraldo Galvão Ferraz e Norma Couri, no Estadão; Mário Pontes, no JB. A Folha pautou o assunto, um prêmio internacional, para seu caderno regional, FolhaRibeirão, cidade com a qual não tenho qualquer ligação, a não ser morar a 90 km dela, porque vivo há dezoito anos em São Carlos. A revista Veja pautou o tema para a Veja Interior, hoje já falecida. Claro, não era denúncia de nenhuma mazela de terceiro mundo. Era uma conquista semelhante a um feito glorioso em olimpíadas às quais ela dá capa."
Com efeito, lembro bem, recordo que o Saramago implicou com o título do romance do Deonísio e por conta disso quase que ele não leva o prêmio. Felizmente o grande português entendeu que apenas o seu desagrado pelo título era muito pouco para retirar a honraria do catarinense.
Sim, ir a Cuba e vencer o Casa de Las Americas não é para qualquer um. Na época fiquei muito feliz por ver um brasileiro, meu vizinho, na época praticamente desconhecido do grande público, se tornar uma celebridade. Que glória!
Em seguida veio um imenso nojo dos nossos meios de comunicação, das televisões, dos jornais, dos donos dessa porcalhada toda, dos profissionais que atuam nesse macabro faz de conta. Qualquer estrangeiro solta um punzinho e eles ficam agitadíssimos, oh, o John, o Mark...
O feito do Deonísio era para ter batido na capa, sim, de todos os jornais e revistas. Merecia entrevistas com o autor em todas as televisões, em horário nobre, em programas de auditório, o diabo a quatro.
Por essas e outras é que no Brasil admiro tanto a raça dos escribas que não são amigos dos múmios donos de tudo, o sujeito tem que ter muito peito para dedicar-se a rabiscos.
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