Depois que falamos da estatística, do sangue quente de Jobava, a turma toda se ligou na partida, sem descuidar das suas. Afinal, era um homem-bomba, de rara técnica e surpreendente criatividade, de quem nunca se sabe o que esperar, contra o gênio da espécie. De se esperar foi a luta renhida que veio. Uma Ninzo-Índia Saemisch Acelerada (Saemisch em homenagem a Friedrich Saemisch, o alemão que bolou a variante). Apesar de conhecida a abertura, no sexto lance já não havia partida idêntica, desde o ano de 1.485 D.C., a partir de quando há registros, o que não é incomum no jogo-ciência.
No lance 27 das negras de Carlsen, Sultan levantou-se bruscamente do sofá, na idade dele isso é um perigo, os mais próximos acorremos em auxílio. Equilibrou-se, rosto crispado, sem desgrudar os olhos do tabuleiro virtual, fazendo sinais com as mãos para que nos aquietássemos. Nos voltamos todos para a tela, examinando a posição. Para nós, que não enxergamos um palmo na frente do nariz, nada de excepcional. Jogo entablado até ali, nos dizemos com olhares. Mas ele sentiu algo. Algo obscuro, quase imperceptível até para as profundezas de computadores, como se viu depois.
Mais um lance de parte a parte e a oculta vantagem apareceu, já não tão minúscula. Após mais três lances ele sentou-se, relaxado, parecia contente.
Entendemos: Jobava também tinha sentido algo no momento em que Sultan viu o risco lá longe, no espaço sideral.
Baadur Jobava estava vencendo o mozart do chess! Logo a dianteira se mostrou em sua plenitude. O primeiro do mundo lutando com todas as suas forças, se recusando a crer no que via em sua frente, teimosamente.
Mais um lance de parte a parte e a oculta vantagem apareceu, já não tão minúscula. Após mais três lances ele sentou-se, relaxado, parecia contente.
Entendemos: Jobava também tinha sentido algo no momento em que Sultan viu o risco lá longe, no espaço sideral.
Baadur Jobava estava vencendo o mozart do chess! Logo a dianteira se mostrou em sua plenitude. O primeiro do mundo lutando com todas as suas forças, se recusando a crer no que via em sua frente, teimosamente.
Os últimos movimentos da partida Magnus Carlsen cometeu já com indiferença, o brinquedo havia quebrado, a decisão de abandonar vinha de bem antes. Ironicamente abandonou no lance 64.Ke4, que, se ocorreu, foi um terrível equívoco de Jobava, que assim cederia o empate. Se aconteceu, foi displicência pelo arremate fácil, desinteressante, que Magnus jamais poderia esperar e por isso não viu. Fomos unânimes em crer que houve erro de transcrição ao final da transmissão instantânea da partida.
Um triunfo histórico de Baadur, estas Olímpiadas serão lembradas para sempre por esta partida.
(Isso foi ontem. Hoje Baadur acabou com a alegria dos comunas do Vietnam do Norte, uma rapaziada maravilhosa que vinha num crescendo em busca do título. Hoje sim apareceu o artista plástico, com sacrifício. Está mesmo encapetado.)
Mas nessa quarta ronda foram muitas as emoções, como diria aquele renguinho lalau-miranda.
Ivanchuk, Aronian e Grischuk venceram, outros empataram, Shirov perdeu.
Os norte-americanos cairam diante dos titulares da Rússia, para variar. E isso que Tio Sam levou uma equipe forte, composta pelo japonês Hikaru Nakamura, pelo russo (siberiano, jogando em casa) Gata Kamsky, pelo ucraniano Alexander Onischuk e pelo bielorusso Yuri Shulman. Todos citizens naturalizados. Coisa bem estranha, uma potência daquelas não produzir um ser pensante desde Bobby Fischer (pai alemão e mãe suiça, nascido em Chicago,1943 e morto em Reykjavik, 2008, que aliás foi corrido de lá e perseguido até a morte).
É no que dá treinar esportezinhos mais confortáveis, pura tecnologia, como aquele que é praticado desde o céu que nos protege e não exige confronto no mano a mano: o joga-bomba-na-cabeça-das-crianças-dos-outros. Este cacoete de ir mudando de assunto... mas o que fazer, é mera associação de idéias: o mundo assistindo calado aos fogos do mal descendo na noite da milenar Bagdá, patrimônio da humanidade, a Mesopotâmia, Entre Rios. Los entrerrianos do Iraque passaram por Moçambique. No primeiro tabuleiro o primeiro revés moçambicano. As brancas de Donaldo Paiva iam bem. No lance 30 o patrício iniciou a manobra para ativar seu cavalo que estava alheio à batalha no flanco rei, no lance 31 inexplicavelmente mexeu seu Rei e veio tudo abaixo, Abdul Sattar Ahmed não perdoou. Curiosamente a equipe do Iraque é composta de homens maduros, algo deve ter acontecido com os jovens.
É no que dá treinar esportezinhos mais confortáveis, pura tecnologia, como aquele que é praticado desde o céu que nos protege e não exige confronto no mano a mano: o joga-bomba-na-cabeça-das-crianças-dos-outros. Este cacoete de ir mudando de assunto... mas o que fazer, é mera associação de idéias: o mundo assistindo calado aos fogos do mal descendo na noite da milenar Bagdá, patrimônio da humanidade, a Mesopotâmia, Entre Rios. Los entrerrianos do Iraque passaram por Moçambique. No primeiro tabuleiro o primeiro revés moçambicano. As brancas de Donaldo Paiva iam bem. No lance 30 o patrício iniciou a manobra para ativar seu cavalo que estava alheio à batalha no flanco rei, no lance 31 inexplicavelmente mexeu seu Rei e veio tudo abaixo, Abdul Sattar Ahmed não perdoou. Curiosamente a equipe do Iraque é composta de homens maduros, algo deve ter acontecido com os jovens.
Os brasileiros passaram pela Jordânia, até aqui só perderam para os chineses. Os uruguayos pelo Tajiquistão graças a Bernardo Mailhe no terceiro tabuleiro. Terceiro tabuleiro que também deu a Cuba a vitória sobre a Bélgica, com Fidel Jiménez.
O Fidelito é de Pinar Del Río, terra dos melhores e mais caros charutos do mundo, de praias maravilhosas (já estivemos em Maria La Gorda) e da maior barreira de corais negros dos mares do Caribe, e vem a ser primo em segundo grau de Carlito Dulcemano, que nunca sei direito se é uruguayo ou cubano, como nosotros nasceu em trânsito.
E as moças. Ah, as moças.
As deusas russas seguem lindas. Tatiana Kosintseva, Nadezhda Kosintseva, Alexandra Kosteniuk, Alisa Galliamova-Ivanchuk e, hoje na sobra, Valentina Gunina. Venceram a forte Georgia no tabuleiro de Alisa, as demais empataram. Sim, Alisa é ex-esposa do grande Vassily Ivanchuk citado logo acima.
Ivanchuk, que foi uma das atrações da última Festa da Uva (deve ter saído caro traze-lo) e nenhuma grande publicação quis entrevista-lo, sequer noticiaram a sua presença. O blog entrevistou-o por e-mail, logo teremos a postagem.
O destaque do dia: a iraniana Atousa Pourkashyian. Sua equipe arrancou um empate diante da poderosa Rússia 2. Atousa, no primeiro tabuleiro, bateu a nada menos que Natalijda Pogonina. Não duvido que ao retornar a menina seja cumprimentada por Ahmadinejad. Vontade de mudar de assunto aqui, voltando ao esporte dos petroleiros, mas me controlo.
Por falar em americanos, o time das norte-americanas foi assim formado: as ucranianas Irina Krush e Anna Zatonskih, a armeniana Tatev Abrahamyan, a lituana Kamilé Baginskaité e a romena Sabina-Francesca Foisor. Uma na sobra. Empataram com as húngaras em 2 x 2.
As brasileirinhas, vindas de derrotas, finalmente venceram: 4 x 0 na Uganda. As uruguayas desapareceram.
Há pouco recebemos e-mail do horizontinense Tigran Gdansk Ordakowski, que anda novamente pelos lados da Cracóvia, festejando o empate da sua Polônia diante da vigorosa Holanda. Abrazo, Tigran!
Gostaríamos de reportar diariamente, com comentários sobre o que de importante nos pareceu em cada rodada (aqui todos opinam, o que vai é resumo das discussões), uma vez que no site da Confederação Brasileira de Xadrez não tem uma linha sobre nada que interesse, sequer noticiam que existe participação brasileira nas Olimpíadas.
Mas não é possível, falta tempo, para além dos mercenários de Dan e Mr. Febraban, temos mais o que cuidar.
Com seu inconfundível sotaque lusófano, Miquirina Segundo me pergunta: Mas e os jornais brasileiros? As televisões?
Respondo, compenetrado, que não podem devido às páginas e telas cheias daquele esporte no qual o xeque-mate é uma joelhada na boca.
Y así pasan los dias.
GENS UNA SUMUS!
GENS UNA SUMUS!
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