viernes, 3 de septiembre de 2010

Tarso (2)

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Vou tentar resumir. A campanha do desarmamento foi e ainda é um dos maiores insultos cometidos à inteligência da nação, para além do menosprezo ao cidadão. Pela forma como foi conduzida.

Não se trata da posição do Pedro ou do João sobre o assunto, tanto que, se houvesse de fato uma campanha de esclarecimento honesta, depois de medidos os perigos e as vantagens, muitos que votaram "Não" no referendo popular que se seguiu, já com a lei esgasgada, poderiam ter votado "Sim".

Ora, se fosse algo simples, quem não desejaria que se fechassem todas as fábricas de armas do mundo? Os fabricantes que tratem de passar a produzir enxadas. Mas não, são muitas as interrogações, algumas bobinhas: como faremos a guerrilha quando sem aviso os Estados Unidos vierem buscar a Amazônia, com foices? Apenas uma hipótese louca, para alegrar o texto, como se os queridos marines fossem capaz de uma coisa dessas...

Ocorreu que as pessoas simplesmente ficaram sem saber de nada, o assunto não foi discutido com a mínima profundidade necessária. E tentar levar no grito, fazendo homens feitos de trouxas...
Recapitulemos: com a lei já em vigor, houve o referendo em 2005. As campanhas pelo Sim (a favor do desarmamento) e pelo Não (contra) foi algo comparável às campanhas da Dilma e do Plínio hoje: uma fábula ricaça contra uma verdade pobretona. E o rica e pobre trata de dinheiro, não outra coisa, e a fábula é de mentira e a verdade é de verdade.

Do lado do Não, um circo de circunspecção, pessoas com ar grave, balbuciando argumentos que a moçadinha, contaminada pela algazarra do outro lado, pensavam alguns, jamais iria entender: exposições curtas, monólogos sem grandes teatralidades.

Pelo Sim, aquilo que falei para o José Serra: Óliúdi em cena, aquela beleza de cinema, atores, inserções pagas, figurinos, ilusionistas, artistas amados pelo povo (teve uma atriz global que falava que 75% das armas apreendidas eram fabricadas no Brasil, esquecendo de dizer que vinham do tráfico: a fábrica daqui exporta, e no dia seguinte elas retornam pelas fronteiras mal vigiadas, como entrariam outras se estas, de melhor preço, não entrassem), música, crianças felizes sorrindo, paz e amor, ah, a vida será outra... como se o Brasil dependesse daquilo para a salvação do... do quê mesmo

O governo pensou seriamente em expor à população, didaticamente, os prós e os contras do desarmamento? Não a posição dos que "estavam" (estão) governo, e sim os reais prós e contras? Nunquinhas: apelou para o circo. Para quê discutir, se já resolvemos no gabinete, vamos passar a perna neles.

Acreditavam na proibição do comércio de armas e munição. Viva! Como somos espertos e corajosos! Ai, espelho meu, arrebentamos a boca do balão. Mas sempre tem gente besta neste mundo, estraga-prazeres. A Denise Frossard foi uma: levantou o dedinho e falou olhando por cima dos óculos: é burrice, lei seca vai institucionalizar o tráfico, perdendo definitivamente o controle.

Claro, o Sr. Bastos, defensor de nababos sonegadores, um símbolo brasileiro de decência, tem proteçào garantida. A Marina... bem, protege o meio-ambiente, mesmo aspirando diariamente o ar irrespirável de Brasília, onde quem não é ladrão é cúmplice.

Há 20 dias do referendo era certa uma vitória esmagadora dos mocinhos, champanhes eram abertas pelos insensatos boçais do Viva Rio, houve quem falasse em 90%. Favas contadas.

Como sói acontecer, os institutos de pesquisas mentem muito, têm lá suas razões comerciais (em grana depositada no exterior para ajudar este ou aquele), mas, se a interferência obtém resultado menor que o esperado, chega o dia em que a mentira se torna insustentável. Assim foi.

Abriram-se as urnas. Na região Sul, 87% dos votos pelo Não, contra o desarmamento. Pelo Sim, míseros 13%. No País, 64% pelo Não, 36% pelo Sim. Acabou-se o que era doce. Nada de perderem por pouco, foi enxurrada, arrasa-quarteirão. Verdade é que nem com o Spielberg e seus efeitos especiais conseguiriam que a nação engolisse aquilo.

Porém a lei do desarmamento seguiu valendo. Claro, os espertos colocaram somente um artigo no referendo. E em cima do resultado ainda quente lá vem outra pesquisa comprada: 80% não pretendem adquirir uma arma. A que se atribui isso? Nova manipulação: o resultado do referendo derivou do descontentamento com o governo, por... sabe-se lá, pelo vermelho das gravatas da nomenklatura.

Não era pelo vermelho: apenas a vida seguia seu rumo, o que era continuou sendo.

Os estelionatários da marquetagem se deram mal porque, eudeusados pela politicalha nojenta, como o são até hoje, não perceberam um detalhezinho do tamanho do Sol: o tema é léguas mais cruciante, não se trata de colocar mais um maluco na presidência, este sempre se pode despachar amanhã ou depois (talvez se precise de armas, o maluco poderá ter milícias). Outra coisa é ficar desarmado em casa, dependendo da segurança pública que não há. A que se tem é para defender os tubarões.

Ah, mas as estatísticas mostram que tanto por cento das mortes ocorrem com arma de fogo. Certo, mas armas de fogo de quem, cara-pálida? De homens de bem, de trabalhadores? Os crimes passionais, iriam desaparecer junto com as armas de fogo? Ou pretendiam raptar também punhais, facões e pás?

E os homens do mal, compram armas na loja, apresentando documentos até do bisavô para obter o registro?

(Preciso verificar se parlamentar tem algum direito especial a posse/porte, isto sim uma temeridade).

Sabe o cara que tem uma chácara ali depois de Viamão? Cheio de polícia por lá, não? Não. Mas o que tem de bandidos transitando...

E o que faz, se tentarem invadir a sua casa para roubar e estuprar?

E o Ary Barroso, que mora no Rancho Fundo, bem pra lá do fim do mundo, onde e a dor e a saudade contam coisas da cidade? E o João de Tal, que a Elizeth ganhou do mesmo Ary, e que reside no subúrbio do Encantado num barracão abandonado? Não tem polícia, lá tem que ter santo forte, zombar da morte. E os que moram onde não mora ninguém?

Ah, se provar a necessidade o senhor delegado autoriza. Mas que senhor delegado, tchê, o senhor delegado que vá mandar nas negras dele, o cidadão tem direitos, di-rei-tos. Direito natural, doutor. Não tem que depender da boa ou má-vontade de quem quer que seja, mesmo que habite um condomínio fechado na Avenida da Paz, onde todos são anjos como Mr. F. Febraban, anjos do mal que, por via das dúvidas, mantêm exércitos de mercenários armados até os dentes lhes cuidando as costas.

Para conter a onda de violência que assola o país vocês precisam começar por enfiar na cadeia os tubarões, os grandes criminosos. O Gilmar não deixa? Deixa sim...

Chovendo no molhado. Argumentos batidos, simplórios, incompletos, de memória, sei, mas que não foram bem respondidos pelos apresentadores do circo. Perderam.

Não pretendi aqui reabrir discussão morta, águas passadas, apenas rememorar, para chegar ao ponto.

Ao ponto: em 2008 assisti boquiaberto o Ministro da Justiça, Sr. Tarso Genro, lançar uma nova... campanha nacional de desarmamento!

Puxa, estourou o saquinho. Já vinham forçando o cidadão a entregar, a pagar para re-registrar a sua arma, agora vinha o quê? Precisa re-registrar, mais atestado psicológico, mais autorização da Madre Teresa, munição depende, mais isso, mais aquilo. Pago cenzinho se entregar a arma de destruição em massa. Foi o modo de reviver o prazo fatal já estourado, sem dar o braço a torcer.

Mas, seu otoridade, o número do registro do meu 22 é este, a polícia sabe, o exército sabe, taxas pagas, pra que isso?

Cala a boca, precisa re-registrar, mediante a quantia de mais mil patacas.

Pressão, coação, desde 2003. E o pessoal nada de entregar, nada de re-registrar. Resistência passiva: me prenda se quiser.

Não tinham nem como pensar no absurdo de prender homens de bem, com registro na mão, levando-os ao convívio das confortáveis prisões brasileiras, embatucaram.

Ameaçam, intimidam, enervam o cidadão. A cada intimidação, o nojo sobe. O cidadão inquieto, desassossegado, sendo empurrado para onde não quer. Os cidadãos se comunicam. Diz um: eu não entrego! O outro vai para casa e pensa, e no outro dia está decidido, fala a um terceiro: eu não entrego! Começa a dar raiva. Abrem outro prazo fatal, sempre ameaçando com cadeia. Ninguém dá bola. A desmoralização se avizinha.

Com o tempo, o cidadão ousa chacota em voz baixa. Ri, vira piada liberarem o porte para fiscais da receita, por que o Leão precisaria de arma diante de cidadãos desarmados? Estaríamos voltando à idade média, quando a cobrança de impostos dos camponeses era na ponta da lança? Ah, obviamente, mercenários privados de segurança podem usar até canhão.

E eles insistindo: entrega, re-registra, paga.

Um dia vira galhofa solta, sem ninguém combinar a turma esquece o pudor e ri às escâncaras.

Até que abriram as pernas: tá bom, vem aqui e re-registra, é de graça, até arma fria pode. Epa, até arma fria? 180 graus.

Mas tá bom, então vou. Não deveria ir sem um pedido de desculpas em rede nacional, sem punição à irresponsabilidade, mas vou.

E lá se foram as pessoas decentes atender ao seu governo, encabulados levando umas arminhas que parecem brinquedos diante dos fantásticos calibres da bandidagem.

Ao que me consta, nenhum bandido foi re-registrar arma registrada, nem lavar arma fria. Os bandidos oficiais já possuíam registro permanente e os demais tinham uns probleminhas de Procura-se.

Desafortunadamente, a população nem sempre consegue distingui-los.

Poderia perguntar em minúcias, passo a passo. Mas vai abrangente, ministro: que diabos aconteceu, além de não aceitarem a derrota acachapante? Diversionismo? Se sim, explique-me, por favor. Oitavas intenções? Idem. Ou apenas a teimosa eclosão da veia autoritária?

Dessa veia tenho muito mais medo do que de armas. E temo que essa história ainda não tenha terminado.

Teriam tido mais sorte se o ministro fosse à tevê e jurasse de pés juntos que iria acabar com a criminalidade, mas de doido nunca vi ninguém acusa-lo. Perderia ainda, mas melhoraria o desempenho com uma pitada de bom-humor, na mesma tevê dizendo ao Brasil: Pessoal, entreguem as armas, juro que os argentinos não vão nos invadir. Jura mesmo? Eles entregaram as deles?

Meu voto se foi. Mas voltaremos, como diria um afável cozinheiro.

Bom mesmo são banqueiros e ladrões dos cofres públicos, o câncer do Brasil e do mundo, cercados por séquitos de centenas de mercenários armados, para protegê-los do genocídio que cometem diariamente.

Controlo-me para não mandá-lo à merda, senhor.

Salito

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