miércoles, 28 de noviembre de 2012

A devastação, n'A Charge do Dias

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Lúcio Peregrino pela manhã abriu o notibuc em uma mesa na calçada do botequim e ficou meia hora furungando na geringonça, enquanto a turma conversava sobre assuntos triviais. Depois disse:

- Gente, é um Deus nos acuda, estou me sentindo mal. Descobri que nós sustentamos em altos cargos - e altos salários - toda a parentalha e todas as amizades daqueles filhos da puta.

Olha para as moças que pararam para conversar com a Leilinha e prossegue.

- Com o perdão da palavra, meninas, mas é de tirar a gente do sério. Os bandidos compram mandatos, comprando o voto do povinho, e não ficam apenas em mensalões e negociatas com empresários lalaus: também se enfiam feito pulgas na folha de pagamento da nação, para depois andarem aí, carrão do ano, palacetes, com ares de doutor, avis rara, "competente", fazendo a gente se sentir uns merdas... De modo que hoje não teremos notícias, não estou bem.

- São minhas colegas da facul, tio Lúcio, não dá nada, elas sabem que filhos da mãe é pouco, só enganam a si mesmos e aos simplórios, Deus há de castigar - diz a Leilinha, ao que as moças, sorrindo, tratam de confirmar.

- O Lula novamente diz que não sabe de nada. Mente. Deveria saber, ora, qualquer um com mais de 40 anos, homem feito, deve saber, imagine um velho como ele, experimentado no mundo e na politicagem. Não adianta, ele sofre o defeito de todo político, supondo os políticos honestos, se os há, até o Brizola era assim: o deslumbramento, amam puxa-sacos... - ensinava o filósofo Aristarco de Serraria, quando foi interrompido.

- Malditos puxa-sacos! Se tentarem lamber o meu saco dou uma porrada! Me dá uma losninha, Portuga! - grita o Contralouco, entrando no bar.

- Para puxarem o teu, só se você pegar na loteria - diz Aristarco, e prossegue:

- Os caras que ousam lhes dizer verdades na cara são imediatamente relegados ao esquecimento, quando não à miséria, todas as portas se fecham, ainda que o político veja que ele tem razão e a seguir tome alguma pequena providência, logo deixada pra lá.

- De novo, camarada Lúcio, comparando as nobres trabalhadoras do sexo com esses aleijumes, já cansamos de falar nisso, não pode chamar de filho da puta, meu chapa, ofende as damas. São os "coisos", pronto, ou diz logo políticos - lembra Clóvis Baixo, apesar de a palavra "político" ter sido banida do bar, pela náusea que provoca nos boêmios.

- O pior é que o efeito sobre os caras concursados, honestos, patriotas, é devastador, uma humilhação inominável, a eles que são preparados, bons técnicos, sérios, tendo que obedecer a essas múmias com mão de gato, diz Tigran Gdanski. 

- Mais nocivo ainda é o ovo da serpente: para atingir os seus objetivos torpes, tentam corromper os funcionários de carreira, e muitas vezes conseguem, é dá ou desce - arremata Chupim da Tristeza.

- O mais triste, amigos, que vocês estão esquecendo: sempre foi assim - diz Carlinhos Adeva, hoje mais quieto que de costume. - Só que antes eram governos de direita, assassinavam quem discordasse, afogavam crianças em latrinas em centros de tortura, para os pais falarem o que não sabiam.

Com essa, o bar silenciou. Clóvis Baixo lembrou uma piada, contará depois.

Partem para a escolha das charges, dobrada, por ontem e por hoje.

Com o Ed Carlos.


Mestre Nani.




Simanca, de A Tarde (Salvador, BA).





E com o Frank, de A Notícia (Joinville, SC).




Leila Ferro parou na obra do Paixão, da Gazeta do Povo (Curitiba, PR).




E na do Duke, de O Tempo (Belo Horizonte, MG), "para variar", como ironizou Clóvis Baixo.



(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)

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