Ainda uma temperatura de assar, em fogo lento, o sol escondido atrás das nuvens, e nada de chuva, que virá, ah, virá, alagando tudo. É o que os boêmios suplicam aos céus há dias. Pela manhã, espalhados na frente do Botequim, era só do que se falava. O Contralouco apareceu de calção, se desabar a chuvarada quer tomar banho na rua, deitar na enchente do meio-fio, aquelas coisas de meninos.
Lúcio Peregrino abre o notibuc e lê as notícias, já com todos em torno, bebericando seus tragos.
- Polícia Rodoviária Federal apreende 400 quilos de coca refinada em Goiás, escondida num caminhão-tanque. Enquanto isso, 800 quilos passaram dentro de um fuca.
- Romário chama o governador do Rio de Janeiro de chantagista, sem-vergonha e...
Pula, pula, - protesta Nicolau.
- Soldados israelenses matam um monte de palestinos desarmados, um tanque esmigalhou um menino...
Peraí - diz o Contralouco - tu ia ler as novidades, pombas, notícia velha não interessa, conta uma nova.
Então não tem mais, é tudo assim - responde Lúcio.
Segue, Lúcio, não liga pro Contra - diz Aristarco.
- Mais 50 assassinatos de jovens pobres nesta madrugada em São Paulo, nenhum tinha passagem pela polícia. O governador abre uma champanhe.
- Uma mulher de 53 anos se suicidou na Espanha, no instante em que iam despejá-la de sua casinha. É o segundo caso pela onda de despejos que ocorre com a recessão. Milhares saíram às ruas protestando, aos gritos de "Banqueiros assassinos", e "Culpados! Culpados! Vergonha! Vergonha!".
Eu queria pegar um, só um que fosse, desses banqueiros, ia ver o que é bom - diz o Contralouco, com raiva.
Jezebel, querendo assunto: o que tu faria com ele, Contra?
Dava umas porradas, mas pra valer, depois botava uma corda no ombro e levava o agiota prum matinho. Taí, ó, pode escolher a árvore, filho da puta. Só pra ver a tremedeira do canalha sem coração. Depois...
Pára aí, gente, deixem o Lúcio terminar, depois matamos os banqueiros.
Ei - diz o Contralouco - eu não ia matar o bandido a sangue-frio, não sou como eles.
- BBC de Londres acusa injustamente um cidadão de pedófilo, deu um rebu danado.
Ei - diz o Contralouco - eu não ia matar o bandido a sangue-frio, não sou como eles.
- BBC de Londres acusa injustamente um cidadão de pedófilo, deu um rebu danado.
- Ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, abriu a boca... para dizer merda, esqueçam essa idiota.
- Vírus do Android entra no rabo dos internautas finórios brasileiros. Por mim que se fodam.
- Nei Latorraca segue pela sete.
Jezebel murmura Deus é grande, tenha fé, Nei.
- Internacional reelege o presidente perdedor sem que o associado possa interferir, foi no tapetão dos ricos. A merda e as moscas seguem as mesmas. Contralouco pensa em invadir o Beira Rio e detonar tudo.
Pára, pelo amor de Deus, não me fale nesses caras - exclama o Clóvis Baixo. O Contralouco levanta-se e vai dar uma volta, dizendo bem que me dá vontade.
Cortamos algumas passagens. Deve ser o calor, o abafamento, que deixa a turma com os nervos à flor.
Leilinha Ferro chega para colher as obras do dia. Ufa. A turma se alegra, o Contralouco retorna, pedem loiras supergeladas.
Desabaram rindo com a obra do Jarbas, do Diário de Pernambuco (Recife, PE). Comentários impublicáveis, salvo o da Jussara, fatal em ironia: "Tadinho, morro de peninha...".
Na outra urna de votação (são duas, simultâneas. Melhor explicar isto direito: são duas obras, cada um escolhe e coloca um papelzinho em cada urna, não vale repetir a mesma obra nas duas, deu pra entender? Depois se soma as mais votadas das duas urnas, pura democracia) deu Pelicano, do Bom Dia (São Paulo, SP). Choveram impropérios e gargalhadas de vingança.
Leilinha Ferro ficou com o Newton Silva.
(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)
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