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No botequim, Aristarco de Serraria, depois da primeira losninha, surpreendeu o pessoal:
- Acordei com o quarto girando, a cama girando, eu, roupas, cinzeiro, garrafa, discos, tudo girando, em perfeita elipse, e durante a giração dei de pensar na imaturidade dos nossos dirigentes, logo estava com o general Figueiredo na cabeça. Na verdade, o País inteiro deve andar pensando nisso.
Silêncio. Todos sabem que Aristarco sofre de um problema que faz com que às vezes sinta tudo girando, mas ficaram boiando quanto ao general. Clóvis Baixo disse:
- Não entendi, Aristarco, explica isso.
- Ah, o Figueiredo certa vez disse que, se fosse um chefe de família que ganhasse um salário mínimo, dava um tiro na cabeça. Na verdade disse que daria um tiro no coco, o que dá na mesma. Parece que falou isso numa escola, com plateia de crianças. A esquerda, hoje no poder... bem, hoje não é mais esquerda, mas são os mesmos caras, caiu de pau: primeiro, porque não se diz uma coisa dessas, numa sentada chamando aos trabalhadores de covardes e declarando a impossibilidade de se viver com aquela miséria; segundo, admitindo que não mandava porra nenhuma, mesmo sendo o ditador de plantão.
O Portuga lhe traz outra losninha, dá um talho e prossegue:
- Agora, essa do Ministro da Justiça, o Cardozão, de um partido que esperneava por um salário mínimo justo e agora faz das tripas o coração no Congresso para mantê-lo indigno, enquanto enche ainda mais as burras dos banqueiros e empresários larápios. Não viram?, o cara falou que preferiria se matar a cumprir pena nos presídios brasileiros. Dizer isso em público, sendo televisionado...
- Ah, são todos assim, Ari, imaturos e interesseiros. É que agora vai arder no deles, se é que os mensaleiros não vão se safar da cadeia. Se tivessem preocupação real com os presídios, começariam com o aumento do salário mínimo, a par de melhorar as condições das prisões -, diz Carlinhos Adeva.
Tigran Gdanski intervém:
Tigran Gdanski intervém:
- Pera aí, gente, de fato foi uma frase muito infeliz, disse uma bobagem, um homem nessa posição não pode ser leviano, deve saber manter a boca fechada, mas haveremos de convir que a Dilma não pode arrumar um país, que há décadas sofre dessas mazelas, de uma hora pra outra.
- Amigos. Os estados têm responsabilidade nisso, não é apenas o governo federal. Os estados alegam falta de recursos, devolvendo a bola para a União, que abocanha tudo. Jogo de empurra. Aqui mesmo em Porto Alegre temos uma dessas sucursais do inferno -, diz Lúcio Peregrino.
(Este blog tratou do assunto, em A sucursal do inferno)
Nicolau Gaiola, disposto a virar o assunto incômodo, argumenta:
- Daqui a pouco vocês vão dizer que ele quis solucionar o problema, sugerindo que todos os apenados se matem, pronto, tava resolvido, não precisaríamos mais de presídios. Ora, claro que não é isso. Pensemos o seguinte: um sujeito estudado, ministro de Estado, político experimentado, não bate prego sem estopa, não diz coisas impensadas. Algo eles querem. O tempo nos dirá.
- E tem uns irresponsáveis querendo reduzir a maioridade penal -, lembra Wilson Schu.
Nesse momento entra o Contralouco e exclama lá da porta:
- Viva Los Millonarios! Vai se preparando, Portuga!
E vai rindo ele mesmo pegar uma cerveja na geladeira. Depois some para os fundos do bar, para as mesas de sinuca, falando em dar a sete livre para qualquer um, a 20 paus.
O botequim é um antro de colorados, hoje todos pessimistas com o destino do Grêmio na Copa Sul-Americana. Disse Clóvis Baixo:
- O placar de 1 x 0 em Porto Alegre foi muito magrinho, eles correm o risco de saírem goleados de Bogotá.
- Acho que o Rentería vai fazer a festa. Gente, todo mundo aqui às dez da noite, vamos assistir direto do El Campín -, avisa Jucão da Maresia.
O Portuga fica quietinho lá no caixa, ao lado de Leilinha Ferro. Dali a pouco vai ao banheiro e volta vestindo a sua camisa tricolor, a titular. Segue sem dizer uma palavra, mas o bar vai abaixo em gargalhadas.
- Bonito pijama, Portuga, - diz Gustavo Moscão.
- Só estamos comentando as possibilidades, Portuga, fora o Contralouco ninguém está secando... - , diz Clóvis Baixo.
- Oh, sim, compreendo, claro que não -, ele responde, irônico.
Leilinha pede que iniciem a escolha das obras do dia. Não demoraram muito.
Ficaram com a obra do Marco Aurélio, de Zero Hora (Porto Alegre, RS).
E com a do Sinovaldo, do Jornal NH (Novo Hamburgo, RS). Esta deu muito o que falar. Os boêmios concluíram que a pena maior para um pau-mandado objetiva fazê-lo dar com a língua nos dentes, tem peixe grande que ainda não caiu na rede. Aristarco, Carlinhos Adeva e Wilson Schu foram os únicos a discordarem, o Supremo não se prestaria a armadilhas stalinistas, usando a lei para tanto. Os malditos políticos é que foram poupados, insistiu Carlinhos.
Miss Leilinha Ferro não ficou de fora do tema principal. Parou na obra do Amarildo, da Gazeta Online (Vitória, ES).
(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)
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