lunes, 4 de febrero de 2013

Antologia de minh'alma, n'A Charge do Dias

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A segunda-feira começou sem sol em Porto Alegre, mas bonita igual, exceto para o Gustavo Moscão.

Ele apareceu no bar cedo, 9 da manhã, no momento em que somente Aristarco de Serraria e Jezebel do Cpers estavam presentes, tomando chimarrão e conversando com António Portuga, este abastecendo os freezers enquanto conversava.

Ari e Jêze estão de férias, não gostam tanto assim de praia e moram pertinho, ele no Beco da Fonte e ela na Rua Formosa (hoje 24 de Maio e Duque de Caxias, mas eles preferem os nomes originais). Na verdade, a doutora Jêze está de férias, pois Aristarco está há meio ano, que se saiba, pois quando perguntado como vive ele responde que "De favores que prestei". Vá entender, mas ali o pessoal não quer nem saber, lhes basta as suas atitudes, é um homem de bem, ninguém engana os boêmios nem por um minuto, menos ainda por tanto tempo. E é primo-segundo do Gustavo. 

O filósofo Aristarco tem aquele negócio de tudo girar em seu redor, mesas, copos, amigos. Outro dia jurava que a Praça Montevidéu e o prédio da Prefeitura rodavam em cima do bar, e que o seguiram até o bar desde que havia passado lá do outro lado do morro, no Centro de Porto Alegre, mas isso é detalhe, cada um, cada um. Naquele dia o Contralouco saiu lá fora e voltou jurando que viu mesmo a Praça Montevidéu dançando por cima, mas o prédio da Prefa só meio de lado, não dava para ver direito, encoberto pelo edifício vizinho. 

Gustavo chegou com o braço direito enfaixado, na tipóia. António Portuga largou na frente:

- Opa, o que houve, meu irmão, caiu no banheiro?

Gustavo havia saído do bar às dez da noite. A Jussara, sua mulher, às oito, com as crianças, ela tinha aquilo de botar a criançada no banho, escovar os dentes, dar uma ninada,  xingar, dormir, essas coisas.

- É, caí, mas não foi nada, me dá uma fada-verde.

Papo furado de praxe e tal, e Aristarco seguiu lendo o Página 12, de Buenos Aires, que havia pego na Banca da República. Mas Jezebel se interessou:

- Fraturou, meu amado? Isso tá com cara de corte... Se tomou antibiótico, não convém beber a fada...

Aí ele não se aguentou e entregou. Gustavo é barriga fria:

- Puta que me pariu, gente. Saí daqui e fui caminhando pela rua da Olaria, aí um conhecido gritou meu nome e sentei com eles no bar da esquina com a República. Quatro mesas juntas, cheias de putiangas.

- Como assim, putiangas?, - pergunta António Portuga, se fazendo, voltando o rosto de dentro do freezer das cervejas.

- Mulheres sem homem, ora, ou deles sem compromisso. Resumo da ópera: cheguei em casa às quatro da manhã. Caí na cama e apaguei. Mas com a camisa cheia de batom, soube agora há pouco. Puta que me pariu. Foi sacanagem dos filhos da mãe, só abracei macho, dois eram amigos de colégio. Hoje acordei com a facada no braço. A Ju me levou em ponta de faca até a porta, a "minha" faca, de açougueiro, que corta até pensamento. Quando saí lá embaixo vi todas as minhas roupas jogadas na rua. O "bolinha", aquele meu som redondinho, morreu com a queda. Olhei a camisa depois, tinha uns cem beijos vermelhos.

- Meu Deus... Mas deixa ela se acalmar, explica pra ela, ora, conheço a Ju, super compreensiva... - diz Jezebel.

Aristarco não perdoa: - Não foi contigo que aconteceu algo semelhante no mês passado? Uma calcinha no bolso... Foram esses amigos sacanas?

Moscão ficou quieto e de um trago bebeu a fada. Depois disse:

- Eu sou um moscão mesmo. Mas juro que não comi ninguém, era só diversão. Perdi a Ju, nunca vai acreditar. Deveria ter comido, pelo menos seria infeliz por uma coisa que fiz.

Mudam de assunto com a chegada de alguns conhecidos do bairro. Os amigos também começam a pintar, Walter Schiru chega mostrando as cordas do violão que comprou para o seu "Alhambra".

Logo chegam Terguino e Leilinha. Depois Tigran, Wilson, Clóvis, Lúcio... ao meio-dia são muitos, vão almoçar no bar. Comida "faz-que-fúdi", como diz o Contralouco, último a chegar, que arremata: "Desde que tenha salada, bife, ovo frito, massa, arroz e feijão, até louco come...".

Quando perguntado pelos demais sobre o que houve com o braço, Gustavo responde com ar de cansaço: "Putz, meio bêbedo caí na droga do banheiro".

Almoçados, são intimados a começarem bem a semana, Leilinha Ferro se impõe: - As charges, queridos tios e tias, já!

Aristarco com os olhos no teto. Leila não se tocou até que  ele disse: - Leilinha, pare de voar, está me deixando tonto.

- Que voar, estou aqui em pé, tio Ari.

Mestra Jezebel do Cpers, que tinha ido nos fundos espiar a sinuca - ligar para a Jussara do Moscão - volta e organiza a votação.

Ficaram com o mestre Tiago Recchia, da Gazeta do Povo (Curitiba, PR). Um achado, vai para a parede do bar, por decisão unânime dos boêmios. Triste, violenta, porém a parede não está lá apenas para registrar felicidade. Tem cada uma... mudaram o nome da parede, não é mais parede, é antologia.





Com o Benett, também da Gazeta do Povo (Curitiba, PR). De cair os butiás. (Vai para a parede desta palafita).




E com o mestre Sinfrônio, do Diário do Nordeste (Fortaleza, CE). Ultimamente só dá Sinfrônio. Cada dia mais horrorizado, como nosotros todos.





A Srta. Leila Ferro silenciosamente escolheu o Nani. Sin palabras.





 A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos meses se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), face a dívidas com o sistema agiotário. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.


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