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Sentados à frente do botequim, admirando a chuvinha salvadora que desce sobre Porto Alegre, os boêmios curtem o agradável sábado da capital. Refrescam-se por dentro com loiras geladas, já que a chuvinha dá refrigério apenas no ar. Ontem a temperatura no Centro bateu em 59º centígrados, segundo o Contralouco, que deve ter exagerado alguns grauzinhos.
Wilson Schu, chapéu de boêmio da Lapa, mexe com os espetos na churrasqueira - um tonel cortado, deitado -, no canteiro do meio da rua.
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Com garrafa e copo na mão, o Contralouco vai até o canteiro, diz alguma coisa ao Schu, enche o copo, volta-se para os amigos e eleva um brinde:
- À Nossa Senhora dos Navegantes! Saravá, ó Nossa Senhora da Esperança!
Arrastar de cadeiras e todos em pé: - À Nossa Senhora dos Navegantes!
Tintim.
Chupim da Tristeza eleva outro brinde: Salve, ó Iemanjá!
- Salve!, ó Iemanjá!
Tintim.
Tintim.
Como não registrar a emoção dos boêmios: feriado em Porto Alegre, em homenagem a sua Padroeira. Crentes, agnósticos e ateus se unem pela amizade. Pelo respeito mútuo, são lidos, faculdade de livros - uns doutores, outros mestres do aprendizado nas ruas desta surpreendente vida, conhecem o significado e pelo agir transmitem a humildade aos que estão começando. Alguns foram à procissão fluvial pelo Rio Guaíba, do pôr-do-sol mais belo do mundo.
Jezebel do Cpers expressa o que todos sabem, ao observar que neste ano Porto Alegre não comemorou com a tradicional queima de fogos de artifício, em dolorida homenagem à cidade que leva o nome da própria Santa Maria, também dos Navegantes, a quem a população de joelhos agradece e reverencia. Não haverá shows, o que nunca deveria haver. A moçada canta pelos bares modestos da periferia e do Centro, família perto, é o suficiente, ninguém precisa de malévolos circos.
- Os mortais artistas somos nós -, diz o ator e teatrólogo Nicolau, como se adivinhasse o que passava na cabeça dos amigos.
Jezebel do Cpers expressa o que todos sabem, ao observar que neste ano Porto Alegre não comemorou com a tradicional queima de fogos de artifício, em dolorida homenagem à cidade que leva o nome da própria Santa Maria, também dos Navegantes, a quem a população de joelhos agradece e reverencia. Não haverá shows, o que nunca deveria haver. A moçada canta pelos bares modestos da periferia e do Centro, família perto, é o suficiente, ninguém precisa de malévolos circos.
- Os mortais artistas somos nós -, diz o ator e teatrólogo Nicolau, como se adivinhasse o que passava na cabeça dos amigos.
A imagem da Santa desta cidade com ligações eternas com os Açores é uma escultura de 1.913, na sua igreja em Porto Alegre. A primeira imagem, do mesmo escultor, João Alfonso Lapa, de 1.870, foi consumida por um terrível incêndio em 1910. A primeira chegou ao Brasil em 1871, e a procissão, pela manhã por terra e à tarde pelo rio de nuances de aquarela, no dizer do cantor gaúcho, começou em 1.875.
Hoje a festa tem um gosto amargo, mas lá se foi o povo, 100, 200, 300, 400 ou 500 mil pessoas?, viver é preciso, precisamos seguir em frente.
Seguiremos em frente, mas eu tive que parar alguns minutos, antes de prosseguir estas mal traçadas, ao lembrar, como os camaradas dolorosamente lembraram - não sai da cabeça de ninguém - das vidas ceifadas em Santa Maria. Haja força para um pai, mãe ou irmão numa hora destas.
Hoje a festa tem um gosto amargo, mas lá se foi o povo, 100, 200, 300, 400 ou 500 mil pessoas?, viver é preciso, precisamos seguir em frente.
Seguiremos em frente, mas eu tive que parar alguns minutos, antes de prosseguir estas mal traçadas, ao lembrar, como os camaradas dolorosamente lembraram - não sai da cabeça de ninguém - das vidas ceifadas em Santa Maria. Haja força para um pai, mãe ou irmão numa hora destas.
Os boêmios da antiga, das vilas e bairros, não participam ativamente. Ativamente quer dizer na procissão, depois dentro dos barcos, aquela maravilha visual e sentimental. Ficam sentados em qualquer lugar à beira do rio, ao longo do percurso, para assistir ao trajeto do cortejo de lindos barcos, conservando, tomando pinga, comendo melancia e pastel dos ambulantes. Muitos em silêncio, olhos postos no rio e na vida que passou e que passa, como o desfile da Santa escoltada por centenas de embarcações de todos os tipos, coloridas, transpirando fé na vida, no amanhã. Pensam nos filhos e filhas moças, na netinha do coração que foi enfeitada para a festa do "Dia de Navegantes". Os boêmios jovens pensam na namorada que não tenho, na mana, no mano, nos velhos.
A Santa há de ajudá-los. Rogai por nós.
A Santa há de ajudá-los. Rogai por nós.
Hoje a turma vai longe, a rapaziada dos batuques e violões recém começam a chegar. O churrasco sairá lá pelas cinco da tarde.
Lúcio Peregrino, que surpreendeu o pessoal aparecendo de mão com uma assessora parlamentar a tiracolo, uma alemoa lindíssima, 26 anos, natural do interior de Ijuí, toda quieta e cheia de pudor, que se sentindo nova no ambiente, tímida, foge do desconhecido e brinca de pêga com as crianças na rua..., O Lúcio resolve deixar para amanhã as Notícias do Notibuc, e explica:
- Um dia como hoje, sei lá, não deve ser manchado com notícias dos vendilhões da Pátria, que arrastam-se feito lesmas pelos corredores do Congresso Nacional, deixando a fatídica marca de gosma pelo caminho; mais tarde, durante a escolha das charges do dia, comentaremos alguma coisa que valha a pena, se tiver.
A alemoazinha bonita e magrinha de Ijuí nem ouviu, com cinco pequenotes no colo na outra calçada.
- Ufa -, suspiraram todos, aliviados.
- Um dia como hoje, sei lá, não deve ser manchado com notícias dos vendilhões da Pátria, que arrastam-se feito lesmas pelos corredores do Congresso Nacional, deixando a fatídica marca de gosma pelo caminho; mais tarde, durante a escolha das charges do dia, comentaremos alguma coisa que valha a pena, se tiver.
A alemoazinha bonita e magrinha de Ijuí nem ouviu, com cinco pequenotes no colo na outra calçada.
- Ufa -, suspiraram todos, aliviados.
O Contralouco também chegou acompanhado da Ingrid, que conheceu na Praia do Quintão.
Gustavo Moscão diz: - Isso não vai prestar, quando começam a trazer mulher ao bar... esses babacas vão acabar casando, eu comecei assim, não há santa que segure.
Jussara do Moscão, a sua mulher, sentada no seu colo, desata a rir, provocativa, feliz.
Y así pasan los dias.
Pelo sim, pelo não: rogai por nós.
Pelo sim, pelo não: rogai por nós.
Salito
Fotos:
1) Ronaldo Bernardi: vista parcial do cortejo, a festa de 2013 se iniciando.
2) Ricardo Stricher - PMPA, idem.
2) Ricardo Stricher - PMPA, idem.
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