viernes, 29 de marzo de 2013

Voltar ao homem

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Em julho de 2012, aqui publicamos uma Carta Aberta ao Ministério Público. Segundo o contador do blog, foi lida por... 41 pessoas. Um breve texto aludindo ao mundial interclubes de futebol nos rendeu milhares de acessos, mas, enfim, é do jogo. Entre os leitores, talvez o ministério público, vez que a ele dirigida. Nada de resposta, seguimos na mesma. Lá falávamos de estelionato, entre outras coisas. 

Hoje quem fala é o pensador Mauro Santayana, em sua coluna no Jornal do Brasil. Ouçamos.



Este foi um ano, no Brasil e no mundo, contra o homem. Esta Sexta Feira da Paixão, que lembra a morte de Cristo, deveria ser consagrada a todos os flagelados, torturados e mortos, sob o signo da ignomínia na história. Ano a ano, cresce a esperança de paz entre os verdadeiros cristãos, e ano a ano, essa esperança se desfaz, diante da brutalidade e da indiferença de uma sociedade devotada ao culto da violência.

Há poucos dias, um jogador de futebol que se destacara como goleiro de popular clube do Rio, confirmou, no tribunal, que um comparsa matara uma de suas eventuais amantes, esquartejara o corpo e atirara as partes a cães famintos. A notícia foi lida com aparente indiferença. Nenhuma das mais conhecidas personalidades públicas brasileiras manifestou sua indignação contra crime tão hediondo. Durante o processo, em que se investigava o desaparecimento da jovem, surgiram informações de sua vida irregular, como garota de programa e atriz de filmes pornográficos, como se tal comportamento devesse ser punido com a morte.

O horror a que essa jovem foi submetida, pelo fato de exigir do pai de seu filho que assumisse a responsabilidade devida, não espantou ninguém. E a ignomínia do expediente assumido pelos assassinos, de fazer com que os cães devorassem seus restos, a fim de ocultá-los, tampouco trouxe indignação a uma sociedade tão preocupada com a sobrevivência de rãs e lagartos.

Confirma-se a previsão de grandes pensadores do passado, de que a tecnologia, ao nos oferecer instrumentos mágicos, nos devolveria à barbárie. Como estamos no Brasil, poucos se espantam (embora em número bem maior do que ocorreu com a morte da “namorada” do goleiro) com a escolha do “pastor” Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. O estranho religioso, que deveria estar na cadeia pela ofensa feita à metade da população brasileira, negra e mestiça, aferra-se ao cargo, com a protérvia de afirmar que só sai dali morto.

Flagrado em vídeo que o mostra em pleno ato de estelionato, ao exigir de um fiel a senha de seu cartão de crédito, o “pastor” não foi expelido da Comissão, pela negligência ética e cumplicidade corporativa da Câmara. Ele e o seu partido, que se intitula “cristão”, são uma blasfêmia e um insulto ao homem de Nazaré que nos dá a sua mão na difícil travessia da vida. Se a Câmara guardar um mínimo de ética deve ir além – e cassar o seu mandato. Vamos ver como agirá nesta segunda feira, que lembra a Ressurreição.

Estamos perdendo a alma, no abismo profundo do egoísmo – ou, na melhor teologia, no abismo do inferno. Esse é o verdadeiro suicídio da Humanidade, que poucos percebem. Podemos refletir hoje, à margem das homilias dos sacerdotes e da bela liturgia da paixão, sobre estes dois tristes episódios de nosso país e nosso tempo, entre outros: o martírio de uma mulher infeliz, que sonhou com a segurança e a riqueza para seu filho, e a petulância de um falso religioso, impiedoso e hipócrita, misógino e racista, que responde a processo por estelionato no STF, infelizmente eleito por cidadãos de São Paulo - que se orgulha de ser o mais rico e mais civilizado dos estados brasileiros.

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