Novamente o chamado "quociente eleitoral" (QE) causa danos ao sistema democrático, tal como imaginado pelo inconsciente coletivo atual, pela nossa realidade atual. Não vamos aqui entrar na gênese do sistema, estamos no Brasil, não no País das Maravilhas. Aqui, é um grande engodo, é reserva de mercado dos patrunfos. A suposta representatividade que confere aos pequenos na prática é irrisória.
O caso mais gritante parece ter ocorrido no Recife, onde o terceiro candidato a vereador mais votado, Edilson Silva, do PSOL, com 13.661 votos, não se elegeu. Em seu lugar entrou gente com menos de um terço dos seus votos (o último eleito teve 4.205). Em São Paulo deu-se o contrário, com o 49º mais votado perdendo lugar para outro, aqui um nanico sendo beneficiado com uma esmolinha, este do mesmo PSOL, com menos de um terço dos seus votos.
Esse monstrengo, o QE, parte do pressuposto de que as pessoas votam em partidos, enquanto que é notório que esta não é a nossa realidade. O cálculo do QE é simplório: se determinado partido, ou aglomeração de interesses espúrios chamada "coligação", tiver metade de todos os votos, terá direito à metade das cadeiras de vereador (e deputado).
Então suponhamos que o total de votos válidos na cidade de Mentira seja de 100.000, e quatro partidos/coligações concorram disputando 20 vagas na Câmara de Vereadores.
Surge o candidato Laranja de Amostra, pelo partido Nacional Socialismo, e faz 50.000 votos. O seu partido, o Nacional Socialismo, terá direito à metade das cadeiras na Câmara, isto é, 10 das 20. Nove companheiros de partido do Laranja de Amostra só fizeram um votinho, o deles mesmos. Não importa, todos serão nomeados vereadores da cidade de Mentira.
A esdrúxula suposição legal é de que a cidade, ao votar em peso no Laranja, queria votar no partido do Nacional Socialismo.
A esdrúxula suposição legal é de que a cidade, ao votar em peso no Laranja, queria votar no partido do Nacional Socialismo.
Nada mais distante da realidade, não era nada disso: é que no mês anterior o Laranja havia salvo a vida de uma criança que se afogava no lago da Redenção (foi armação, mas ninguém sabe), era um herói, enquanto seus empregados distribuíam ricos presentes pelas vilas. O povinho queria votar nele somente. Os espantados da cidade suspeitam que os nove sem voto são ricaços que compraram os presentes.
O mesmo se aplica ao candidato Tiririca de Itapipoca, do Partido dos Roubos, que fez 20.000 votos. Este era um palhaço de circo e nele o povo ridente descarregou sua mágoa com a má política. O seu partido terá 20% das cadeiras, ou seja, quatro. Ele e três roubativos, estes três que casualmente também tiveram somente 1 voto, os deles.
Até aqui, com dois nomes, o Laranja e o Tiririca, temos 14 das 20 vagas preenchidas. Um candidato com 50.000 votos, outro com 20.000 e mais doze com 1 voto.
É assim que acontecem esses absurdos, de o cidadão com 5.000 votos não se eleger, em seu lugar entrando outro candidato com muito menos.
A cidade reconhecerá aqueles elementos de 1 voto como seus dignos representantes?
Agora, quem pariu esse monstro? Como sempre, basta olhar quem dele se beneficia. Quem seria?
Ora, os grandes partidos, impondo-se como verdadeira ditadura. Se você é um cidadão respeitado e o povo o deseja como seu representante, é certo que se elegerá, mas somente se através dos grandes partidos, submetendo-se aos seus regramentos, ou seja, entrando para o "esquema".
E assim passam os dias.
Sem dúvida, um grande problema, também tenho discutido esse absurdo nos últimos dias. Vi isso aqui em Blumenau também. Fico imaginando que como isso tudo é de interesse dos partidos, no final eles arranjam um ótimo cargo para o excluído bem votado para que fique quieto e não manifeste sua indignação pois é raro que um deles o faça.
ResponderBorrarComo ocorreu com a "Ficha Limpa" acho que estava na hora de um grande abaixo assinado nacional para modificar esse método. Que se faça uma pesquisa e será quase certo que os resultados mostrarão que menos de 5% dos eleitores votam pensando nos partidos de seus candidatos. Eu pessoalmente tenho minha rejeição a alguns partidos, mas votei em pessoas, não em seus partidos.
Isso precisa ser mudado.
abs
João Neumann Neto