Chavela Vargas - Piensa en mi

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Há poucas semanas o mundo perdeu a célebre cantante mexicana Chavela Vargas (Isabel Vargas Lizano - San Joaquín de Flores, Costa Rica, 17/4/1919 - Cuernavaca, Morelos, Mexico, 5/8/2012). Dizemos mexicana, embora tenha nascido na Costa Rica, porque viveu no México desde os 15 anos.

Na primeira metade do século passado, começou assustando a sociedade mexicana, à época hipócrita como em todo lugar, com sua voz rouca cantando "rancheras", vestida de homem, revólver na cintura, agressiva. Começou e não parou mais, um escândalo atrás do outro, para a mentalidade vigente (claro que mentalidade da época, na soma, é ironia grossa, gente, faz de conta que agora é diferente..., desculpem).

Festeira como só, bebia a dar com um pau, noites e noites de boemia, talvez buscando o sentido da vida, se é que a vida tem algum sentido, como o fazem os boêmios, não importa se certos ou errados, vá saber quem é certo ou errado, mas de modo diferente dos outros humanos.

O povo não queria nem saber da elite cafifa: a amou desde o primeiro momento e até o fim, arrebatado pela sua voz intensa, emocionada, chorosa. A "condição humana" assumida, nossos defeitos expostos, sem fuga de hipocrisia, no osso do peito (boa noite, Lúcio Cardim; boa noite, Lupi; boa noite, Cazuza; boa noite, ah, tantos e tão poucos).

Logo tomou o país todo, todas as classes, à exceção dos múmios, raros, que estes não gostam de nada.

Tornou-se amiga de Frida Khalo e Diego Rivera, outros doidos, como dos artistas de alma de todas as correntes, e aí sentiu-se bem.

Mas havia tomado gosto pela bebida, e na sequência de perdas, mortes e desencantos a que todos somos submetidos, fraquejou.  Não parava, era acordar e correr dar um beijo num copo de tequila com sal nas bordas.

Na década de 70 se retirou da cena musical, para tentar se curar.

Em 1997, com quase 80 anos, reapareceu para o mundo, por obra do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, em trilhas sonoras de seus filmes. Tinha que ser com ele, pois esse boêmio é doido de atar, chegadinho num escândalo, daqueles que, com bebida ou sem bebida, recomenda aos amigos no início da noite: podem se divertir, dançar, beber, transar, mas ninguém ouse fazer fiasco, o fiasco é meu, eu que faço!  Diga não pro maluco... 

No dia seguinte à sua morte, Almodóvar, a quem ela chamava de "meu marido", começou assim a sua carta de despedida:

"Durante veinte años la busqué en sus escenarios habituales y desde que la encontré en el diminuto backstage de la madrileña Sala Caracol llevo otros veinte años despidiéndome de ella, hasta esta larguísima despedida, bajo el sol abrasivo del agosto madrileño.

Chavela Vargas hizo del abandono y la desolación una catedral en la que cabíamos todos y de la que se salía reconciliado con los propios errores, y dispuesto a seguir cometiéndolos, a intentarlo de nuevo."

Não transcrevo a carta toda porque me deu uma coisa.

Tomei uma ducha fria. Bem...

No vídeo há trailers de filmes do jovem cineasta, com a "velha" interpretando, como só ela poderia, a marcante composição de Agustín Lara, Piensa en mi, um clássico do mundo sentimental.

Na guitarra, ninguém menos que Antonio Bribiesca, "el mejor guitarrista de Mexico", aqui fomos socorridos pelo amigo Schumacher, o pessoal que posta no youtube esquece de dar os créditos.

Vou tomar um trigo-velho.

Tintim, Chavela!

Em sua trajetória, Chavela não esqueceu do Brasil, de outra "maluca", que infelizmente perdemos cedo demais: Dolores Duran. De Dolores este blog está lleno de referências, mas não tem índice esta droga, achei uminha daqui pelo gugle, AQUI.

Vou tomar outro.