lunes, 1 de octubre de 2012

Pergunte aos meus tamancos

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Pergunte aos meus tamancos, de 1936,  há muito reclama por uma regravação, com todo o aparato instrumental e tecnológico de que os sambistas atualmente dispõem. Parece que só o Zeca Pagodinho grava clássicos da turma da antiga, e ao gravar, aliás, põe abaixo o coração da moçada. Chega junto, Malandro Histórico, tantos. Zeca é a maior expressão popular desde Noel Rosa, não por acaso.

Quase que conto um incidente com o Tom Zé. Deixa pra lá. 

Conto! Por que não?

Há muitos anos trocamos duas ou seis mensagens por correio eletrônico. Na minha penúltima sugeri que ele, metido a doido que nunca foi, gravasse uma música do Lúcio Cardim, chamada Ressaca.

Um clássico. Lúcio tem muitos, que nunca tocaram no Brasil porque ele mandou os robertos marinhos e seus escravos, pedros bials e todos, tomarem bem dentro. Eles mataram Lúcio Cardim do melhor modo que sabem fazer. Tiraram-lhe o grande palco, afinal eram e são donos de tudo... e só quem passou por isso sabe o que é ser bom e ignorado, morto em vida, vendo as nulidades na telinha e em grandes shows. A massa aplaude feliz. Claro, ao Lúcio restou se apresentar em bares, defendia o pão de cada dia, mas merecia muito mais.

Outro dia choravam a morte de uma artista, uma das que, quando a ditadura trucidava e ria, ela ria junto e comia churrasco com os Malufs e Delfins. Não sabia. Eu, aos 8 anos, morando na costa do Uruguay, analfabeto, sabia o que se passava.

Voltando... Passaram-se dois meses e ele, o Tom, me disse que ia cantá-la no Circo Voador (Rio de Janeiro). Ressaca, pra ti, meu amigo, apareça lá!

Eu respondi que bom, uma música que ele nunca tinha ouvido, mas pegou a ideia de surpreender a moçada. Falei que eu estaria voltando de viagem para Porto Alegre, mas que pararia no Rio para lhe dar um abraço.

O coitado achou que eu ia dar uma de beijoqueiro, ou sei lá, andou cheirando, e se saiu assim: "Vai pra platéia e fica na tua que ninguém se machuca...".

Não acreditei. Achou que eu iria ao camarim? Ora, ora. Ele que, se quisesse, que tratasse de me achar lá atrás, depois do povão da fumagem.

Doeu, a precariedade das almas sempre dói. Uma pena, mas azar, cada um com a sua grandeza. Culpei a mim depois, deveria ter visto a sua ansiedade em ser o cara. Igualzinho aos outros, caetanos, gis. Acham-se príncipes do céu, sem ver que quem os aplaude é o povo lá debaixo do mosteiro do Nome da Rosa. Vão lá tomar os trocos desse povinho.

Qual é a graça que há em tomar de cegos, que prazer é esse, nunca entenderei.

Onde andávamos neste papo...?

Ah, o Zeca...

Até onde sei,  rachava a grana com os familiares dos velhos, uma parte, e também botava escola para um montão de meninos e meninas, começou com 150, depois os politícos atrapalharam, mas seguiu, aulas e bóia, bóia antes de música e de tudo, parari parará.

Isto é para falar em outro dia, com jeito, os jornais não gostam do bem, homens de bem se constrangem, uma coisa que era para ser normal...

A manchete do jornal é que o policial atirou no rosto do menino desarmado, para se defender das mãos franzinas. A Judéia com mil ogivas nucleares planeja atacar o Irão a pretexto de que eles fabricarão uminha, o Irão merece. Professores prejudicam o ano letivo com uma greve sem sentido.

Faz sentido, se olharmos os nomes dos donos dos jornais, que, como certos artistas, adoram iludir colégios sem giz.

Bah, misturei, o assunto era mesmo que,

Vai, pergunte aos meus tamancos / Quantas vezes no meu tranco  / Eu passei lá no seu portão / E o placo, placo-placo do meu salto / Chegou a fazer buraco / No asfalto lá do chão / (Se tu não acredita...)

Não por acaso recordamos esse e outros clássicos neste 1º de outubro, de autoria de Alcides Gonçalves e Lupicínio Rodrigues.

Pela lei do Brasil já deve ser domínio público, os horríveis 75 anos se passaram. Talvez agora apareçam amantes de bons sambas, queridos, ansiosos por preservar a memória nacional, agora que não precisam pagar nada de direito autoral, é "tudo meu". Salvo se houver outros artigos e parágrafos contratuais com as gravadoras norte-americanas, as donas das armas, as donas da voz. Filhos da...

Ao amor:

Alcides Gonçalves (clicando no nome leva a um antológico depoimento de Aguinaldo Loyo Bechelli) hoje estaria de aniversário, com muito samba e trago, se vivo fosse. No Ao Chiado Brasileiro há uma excelente matéria sobre este nosso grande artista, escrita por gente sensível e que sabe das coisas, pesquisa com coração de amor.

Na rede encontramos apenas esta antiquíssima gravação, na interpretação do próprio Alcides, que também era um excepcional cantor. É ainda, como se comprova pelos vinis.

A alma de amor que conseguiu, sabe-se lá como, colocar o samba em vídeo na rede se chama Antonio Bocaiúva. Um abraço, Antonio! Gracias.







Vai, pergunte aos meus tamancos
Quantas vezes no meu tranco
Eu passei lá no teu portão
E o placo , placo-placo do meu salto
Chegou a fazer buraco
No asfalto lá do chão 

E compreenderás então
Como tinhas te enganado
Eu não faltei o encontro
Que você tinha marcado...
Se marcasse pras dez horas
Eu às nove estava lá
Meia-noite fui embora
Porque cansei de esperar
(Se tu não acredita...)

O meu lenço de chitão
Ficou todo amarrotado
De eu tanto torcer na mão
Por me sentir ansiado...
Via-te todo momento
Sonhava estar te abraçando
Veio a hora e não vieste
Fiz a trouxa e fui andando

 

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