João da Noite, o amigo que segura o blog quando estamos ausentes, telefona às 3.
- Sala! Sala!
- Sala! Sala!
- Oi, João, sou eu, calma, que diabos aconteceu? - digo, ao sentir a diferença na voz.
- Estou calmo mas nem te digo, Salito meu irmão...
Ora, assim é fácil de adivinhar: problemas com Carlito Dulcemano Yanés. Respirei fundo antes de perguntar.
- O doido explodiu agências de agiotagem de novo?
- Não, Sala, não foi banco, foi pior, brigou com a Ju.
- Então deixa assim, João, vá dormir.
- Mas ele...
- Ele nada, vamos dormir, se quiser passe aqui para a penúltima.
Desligo e fico imaginando Carlos Yanés no pelo do cara que roda no som aqui na palafita, o Aldir Blanc. Estava no início, mas puxei para trás o CD e aumentei o volume, para ser ouvido na Sibéria.
E o imagino andando pelas ruas de madrugada, sob o chapéu os olhos negando espelhos, distribuindo pães e algum para os noturnos do coração, os que dormem em praças. Lembro do que vi. Carlos no momento não pode encontrar um banqueiro ou político em fim de festa. Momento que passa, se não os encontrar. Não há de encontrar. Rezemos para que não entre em bares "deles", na rua da "fama" da RBS.
Carlito com seus olhos castanhos em fogo e as armas de fogo sob as axilas. Carlito com 36 anos e roupa de homem, paletó cinza-escuro. Mas para eles, os inimigos, los dientes de Carlito seriam suficientes. Em 1990, ainda menino, se encapetou e jogava pães para dentro das mansões dos malandros do esquema financiero. "Pêga, viejo sucio!", e lá ia pão de meio, quentinho, caindo aos pés dos mercenários nas guaritas de Mr. F. Febraban. O doido de 15 anos havia comprado um saco de pães na padaria, de madrugada, gastando os últimos dinheirinhos que tinha, e os deu todos.
Um ruído doce e amargo vem lá de fora: chove na capital. Chuva média, insistente. Agora me preocupo. Andando pela chuva. Vai tirar Carlito do sério. Ele não briga com bobos, eu sei, no máximo, se o provocarem, usa o punhal, sem emoção, e não para matar, com pena até, mas me preocupei, tem coisas que se começa e não se sabe como termina. A chuva, a Betsabé, a vida...
Hoje com dez negros bons de Cuando-Cubango, os nossos, o seguindo de longe sem que ele soubesse. Por causa de Ju Betsabé o mundo pode perder um grande homem. Preocupei-me e olhei para a roupa que recém havia tirado.
Nem vinte ousariam atravessar, só resta torcer e ajudar se preciso, pensei, mentindo para mim mesmo.
Um ruído doce e amargo vem lá de fora: chove na capital. Chuva média, insistente. Agora me preocupo. Andando pela chuva. Vai tirar Carlito do sério. Ele não briga com bobos, eu sei, no máximo, se o provocarem, usa o punhal, sem emoção, e não para matar, com pena até, mas me preocupei, tem coisas que se começa e não se sabe como termina. A chuva, a Betsabé, a vida...
Hoje com dez negros bons de Cuando-Cubango, os nossos, o seguindo de longe sem que ele soubesse. Por causa de Ju Betsabé o mundo pode perder um grande homem. Preocupei-me e olhei para a roupa que recém havia tirado.
Nem vinte ousariam atravessar, só resta torcer e ajudar se preciso, pensei, mentindo para mim mesmo.
Tomara que chore o amor perdido ao chegar na escadaria da 24 de Maio.
O chefe da equipe de Cuando-Cubango telefona para Miquirina Segundo: Carlito os driblou, o perderam na dobra do Beco da Fonte, sumiu.
Grande novidade, quando o gigante Kafil da Tanzânia veio me dizer eu já estava vestido, na porta lá embaixo para sair, conheço meu irmaozinho. Ele vai me ouvir desta vez. No pátio falei "Comigo Kafil e Miquirina, só". Saindo correndo atrás de mim Miquirina Segundo gritou para a tigrada da guarda redobrar a vigilância da palafita.
O chefe da equipe de Cuando-Cubango telefona para Miquirina Segundo: Carlito os driblou, o perderam na dobra do Beco da Fonte, sumiu.
Grande novidade, quando o gigante Kafil da Tanzânia veio me dizer eu já estava vestido, na porta lá embaixo para sair, conheço meu irmaozinho. Ele vai me ouvir desta vez. No pátio falei "Comigo Kafil e Miquirina, só". Saindo correndo atrás de mim Miquirina Segundo gritou para a tigrada da guarda redobrar a vigilância da palafita.
O relógio caminha para as 4 da matina em Porto Alegre. Alguma birosca há de estar aberta, acharei o bobo. Ao longe, do carro percebo que os habitantes da palafita acendem todas as luzes, sinto que as mulheres se movimentam, que ali em casa ninguém dorme mais.
Nesta manhã morna e cinzenta sinto apenas a dor da inocência perdida.
ResponderBorrarA consciência dos conflitos,
Tão evidentes,
Não torna evidente nenhuma solução.
O mundo da opinião é caótico,
Sinto-me deslocada,
Incoerênte,
Causa repulsa minha imobilidade.
O mundo dos objetos materiais vai e vem.
De repente uma brisa leve torna amena a angústia,
E o canto dos pássaros lembra que há vida
Fora da tresloucada existência humana.
Nesta manhã,
Em frente à uma auto-estrada,
Os automóveis vem e vão,
Num ir e vir infinito e sem rumo.
Com toda a irracionalidade do mundo exposta,
Não sei o que fazer,
Pra onde ir,
Como viver!
Valeu, Claudinha, teu blog (http://bibliocaos.blogspot.com/) segue ótimo.
ResponderBorrarAbraço.
Sala