lunes, 2 de enero de 2012

O totalitarismo dos banqueiros

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Como todos sabemos, no Brasil os bancos fecharam na sexta-feira passada. Deixaram uma maquininha contando as moedinhas, logo teremos os lucrinhos auferidos durante o ano, naquelas intrincadas (e privativas) operações de tomar a meio por cento e emprestar a dez. Aguardemos.

Por enquanto, o pensador autodidata, do alto de sua majestade, feita de serviços prestados ao colocar à nação seu pensar e sua sinceridade, com destemor, Mauro Santayana fala um pouco dessas respeitáveis instituições.

O totalitarismo dos banqueiros

Por Mauro Santayana

A crise econômica e financeira, iniciada há três anos, longe de ser debelada, agravou-se, levando o mundo a nova encruzilhada, entre a revolução e o totalitarismo contrarrevolucionário. O confronto não é novo. Nele se encontra o eixo da História, com a predominância de uma ou de outra situação, o que leva alguns historiadores a considerarem a revolução um fenômeno permanente, assim como permanente é a reação conservadora.

Em suma: os ricos e poderosos agem com astúcia e com violência, a fim de manterem os seus privilégios, e os pobres resistem e, em certas situações, respondem também com violência, em busca da sobrevivência com dignidade. Há uma diferença, na semântica política, apesar da semelhança entre os dois vocábulos, entre reagir e resistir.

Os ricos e poderosos reagem às reivindicações de justiça que fazem os pobres; os pobres resistem contra a opressão e, quando encontram líderes dispostos, atuam a fim de mudar as estruturas do poder e as leis que as sustentam. A isso se chama revolução, haja, ou não, o emprego das armas.

As verdadeiras revoluções não buscam esconder-se em seus propósitos, mas os movimentos reacionários, fundados na mentira, na mentira se identificam, ao se autodenominarem “revoluções”, como ocorreu no Brasil e em outros países latino-americanos na segunda metade do século passado. E quanto mais totalitários sejam esses movimentos, mais se dizem “inovadores”.

O que marcou este ano que passa foi a atrevida desfaçatez dos donos do mundo, os grandes banqueiros. Depois de desmascarado o seu assalto aos estados, aos fundos de pensão, aos acionistas e à economia dos trabalhadores, os grandes bancos, em lugar de sofrerem a intervenção radical do Estado, com sua encampação, como seria natural, converteram-se em interventores diretos nos estados europeus em crise, e em mentores indiretos em alguns dos principais países do planeta.

Por enquanto há a resistência dos países emergentes, liderados pelos Brics, a entregar seus estados aos banqueiros, mas é necessária a constante vigilância dos povos a fim de impedir que essa intromissão venha a universalizar-se. Quando os delegados dos grandes bancos — com o Goldman Sachs no comando — não conseguem a chefia direta dos governos (como ocorreu na Itália, com Mário Monti, e na Grécia, com Papademus), exigem e obtêm o controle das finanças (e do orçamento, entenda-se), a fim de garantirem a continuidade do saqueio, mediante o arrocho fiscal. Ao cortarem os gastos sociais como os da educação, da saúde e da segurança, obtêm-se os chamados superávits orçamentários a fim de pagar novos juros aos bancos especuladores.

Ainda agora, Mariano Rajoy, o novo primeiro-ministro espanhol, acaba de nomear para o Ministério da Economia Luis de Guindos — ex-diretor do Lehman Brothers para a Espanha e Portugal, até a “falência” do banco. O homem que foi cúmplice das falcatruas do Lehman Brothers (o banco quebrou, mas seus dirigentes ficaram ainda mais ricos) vai agora cuidar da economia e das finanças da Espanha.

O neoliberalismo acaba de triunfar: o Estado não existe mais, e cedeu diretamente o seu espaço nas sociedades italiana, grega e espanhola ao mercado financeiro e, indiretamente, em toda a Europa, mediante o Banco Central Europeu, cujo presidente, Mario Draghi, é, como os interventores na Itália e na Grécia, funcionário do Goldman Sachs. Conforme todas as informações disponíveis, trata-se do mais espetacular assalto da História: os banqueiros — incompetentes ou larápios, conforme o juízo dos observadores — apossaram-se do governo nos estados emblemáticos, e, mediante isso, podem controlar a economia mundial.

A reação dos povos, com as manifestações populares, é ainda débil. Falta-lhes o necessário engajamento da intelligentsia mundial, que está sendo lento, porque, entre outras astúcias do capital financeiro, houve a cooptação de muitos homens de pensamento, como os professores das grandes universidades, jornalistas conhecidos e chefes religiosos, com o uso dos recursos costumeiros — e conhecidos.

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