domingo, 16 de septiembre de 2012

Boêmios de noite atravessada, n'A Charge do Dias

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Dia nublado na capital dos gaúchos, temperatura de 21º, com um ventinho agradável. No Beco do Oitavo são raras as pessoas na rua. Isto é, na rua que se chama Beco do Oitavo. Com este esclarecimento respondemos a cinco mil indagações de leitores da Rússia. O nome do logradouro, da rua, é Beco do Oitavo, nada mais a ver com o antigo bar homônimo, que foi extinto conforme múltiplos leros aqui levados.

Às nove da manhã poucos boêmios em mesas na calçada do Botequim, alguns de noite atravessada. O Contralouco é um dos atravessados, já bebericando a dyabla verde, o absinto doméstico produzido pelo Terguino Ferro. Aristarco de Serraria toma chimarrão enquanto passa os olhos pelo jornal da judéia, como ele diz, referindo-se ao Zero Hora, cuja edição dominical está nas bancas desde sábado pela manhã. Por favor, ninguém ria, chorar pode.

Clóvis Baixo lê as tirinhas, só o que presta, na sua opinião. Gustavo Moscão discute baixinho com a Jussara em outra mesa, assistidos pela mestra Jezebel do Cpers. Jucão e Silvana Maresia apontam ali na dobra da escadaria.

Nesse momento de tranquilidade, a pergunta que os assalta, pela voz de Marquito Açafrão, é: onde anda o Prefeito João da Noite. De fato, está desaparecido há mais de mês.  Todos sabem que voltou para aqueles matos perdidos lá para os lados de Palmeira das Missões, sabem também que o boêmio tem o corpo fechado, mas ainda assim se preocupam.

Jezebel: "Nunca vi o João durar mais de um mês com a mesma mulher. Desta vez parece que é sério".

Aristarco de Serraria: "Depois que vi o brilho nos olhos dele, ao falar da sua selvagem 'araponga da manhã', também não duvido".

Jussara: "Uma vez durou, sim, anos atrás ficou dois anos grudado numa alemoa de outro mato desses".

Clóvis Baixo: "Se em 15 dias com a índia ele voltou com aquele punhal de osso de 30 cm, quero ver o que trará na próxima vez".

(Na verdade ele disse, segundo a gravação - Leilinha colocou gravador embaixo da mesa dos loucos, será o seu doutorado um belo dia, o Portuga e o Terguino cuidam quando ela não está, os abobados nem ligam mais - o Clóvis disse "quero o ver o que vai trazer na próxima vez", mas o tradutor aqui, todo fresco, arruma para estragar, botando o que trará)

Contralouco: "E com aquela raiva... É bom mesmo que não volte agora, iria querer capar esses políticos de merda".

Jussara: "Olha quem falando, o explodidor de carros de som...".

Silvana Maresia: "Pra capar tem que ter tico, e esses aí não sei...". Jucão solta a primeira gargalhada do dia.

Clóvis Baixo: "O que tu fez ontem, Contralouco?, te perdi de vista desde o entardecer".

Contralouco: "Bah, meu, nem te conto. Deu de tudo. Para encurtar a conversa, me aborreci e fui para a casa das minhas enfermeiras, lá na vila Cefer. Aquelas curam loucos. Tomei todas e ficamos de frescuras até às 6 da manhã. Clóvis do céu: enfermeira sabe pegar na gente... Elas foram pro batente e eu vim pra cá. De noite volto pra lá".

Jezebel: "As enfermeiras... João da Noite foi embora mas deixou discípulos...".

Cícero do Pinho dá um tempo e depois, meio constrangido, se aproxima, curva-se e diz no ouvido do Contralouco: "Pô, tio Contra, eu ando doido para arranjar uma namorada, sincera, só minha, me diz como eu faço, o senhor tem duas". Todo mundo ouviu, olhando para o céu cinzento, ali quem corre menos voa.

Contralouco: "Não são duas, guri, são três. Mas esquece isso, meu fiinho. Quem tem mais de uma não tem nenhuma, como regra da nossa cultura local, as moças vão na deles, escravas. Nossa cultura que eu digo é a dessa gente que sustenta prostíbulos caros, de dia falando em rigidez de costumes para o povinho, vá saber o que é isso. Pelo feicebuc você deverá conseguir, ou mesmo nos badus da vida, aqui tu vai gastar o pau."

"Mas, seu Contra, eu não gosto desse negócio, não curto nada nem ninguém, sinto que é uma coisa falsa..."

"Tá, não quis dizer. Bem, namorada não adianta procurar. O que é teu está guardado, força e paciência, resignação, tu tem apenas 20 anos, quando chegar o dia você saberá. Enquanto não vem, sonhe, e vai batendo punheta, para manter a forma".

O bar foi abaixo. Cícero olhou rapidamente em torno, temeroso, mas todos já miravam para Mr. Hyde chegando, fazendo de conta que o riso era para o médico voz de trovão, sorridente, barril de chope às costas. Mr. Hyde é dos nossos, murmurou João da Noite lá do nunca.

Jucão da Maresia não aguentou, mas dali dois minutos, falando para o lado de lá, sem olhar para o Cícero querido: "E depois dizem que o Contralouco não bate bem!".

Nessas alturas uns vinte já se espalhavam pela frente do buteco. Jucão vai lá dentro e traz papel e caneta. Em poucos minutos fazem o buquiméqui a 10 reais, sobre quanto tempo João da Noite levará para reaparecer. Deu de tudo, de uma semana até dois anos. A guarda das apostas é delegada ao Portuga.

Começa uma chuva fina, o dia está mais cinzento. Propício a recuerdos... mas isto são conjecturas do tradutor de bares que escreve estas mal-traçadas.

Lúcio Peregrino, de chegada, se instala na cadeira do meio, reservada a ele, é o único que tem cadeira cativa devido ao nótibuc.

Pede um uísque e diz: "Bem, senhores seus e senhoras minhas, vamos atualizar as notícias, rapidamente, senão daqui a pouco algum corno vai dizer que este buteco não pensa". E vai lendo e falando:

- O Papa José Ratozinger, chefe da Inquisição, reza à beira-mar para milhares de libaneses. Uns três mil.
- Alguns bandidos dizem que o Marcos Valério é louco. Engraçado, quando eram sócios na calada da noite, e até ontem, ele era um amigaço perfeitamente são. Outros mantêm silêncio.
- O candidato que o Lula botou, em sociedade com o Maluf, para concorrer à prefeitura de São Paulo, também diz que o Marcos Valério é abalado psicologicamente. Deve ter ficado assim com as falcatruas no ENEM. 'Se esse sujeito vencer em São Paulo eu corto o pau ou vou morar na casa do Salito lá em Bujumbura, tenho convite para passar um temporada'.

Clóvis Baixo intervém: "Vá mesmo, tu vai gostar muito do Burundi, dizem que o povo é super amistoso, no Ainda Espantado encontrará cada coisa".

- A China tá doidinha pra jogar umas bombas no Japão, por causa da posse de uma ilha de merda.

(Jezebel sussurra: Hi, e depois é o Contralouco que bebe).

- Lulalelé inchado de cachaça com codorna participa do comício do seu cacaca perdedor na Bahia. Sobre o Marcos Valério, nem um pio.
- Lula diz ter saudades do SUS. O Sírio Libanês mudou de nome.
- Filhinho-de-papai bêbado atropela sete em São Paulo. Depois sai gritando Preciso que alguém meta no meu cu. Não, não foi o Thor.
- Talibãs amorosos e valentes, na tentativa de dar um tirinho no cruel príncipe da Inglaterra, matam quatro terroristas norte-americanos no Afeganistão.
- O trilionário José Serra leva uma livrada na cabeça. O livro se chama A Privataria Tucana. A imprensa cala, o povo não lê.
- Governo egípcio manda os americanos tomar naquele lugar, bem dentro, sem cuspe.
- É Dia de Ano Novo na Judéia, Dilma manda abraços ao povo judéio.
- Português tarado estupra a si mesmo.
- O Hitler da Judéia, Bibão Netanyahu, diz que hoje não vai jogar uma de suas mil ogivas nucleares, bomba atômica, sobre a cabeça das crianças persas, pela suspeita de que os persas estejam fabricando... uminha bomba atômica. Talvez amanhã jogue, hoje a Judéia vai festejar o Ano Novo judaico, ele não quer se preocupar com vidinhas sem valor numa data tão importante. Intelectuais israelenses, humanistas, criticam o seu governante.
- Ministro Manteiga diz  que os juros do cartão de crédito são escorchantes. Agora que o otário descobriu...
- Candidato do PSTU vence na enquete DataEspanto do blog Ainda Espantado.
- Luxemburgo surpreendido de arretos com o Fernandão.

Tigran Gdansk empinava o seu primeiro gole e se afogou: "Chega, deu pra ti, Lúcio, tá parecendo o Carlinhos Adeva com suas invencionices. Porra, tu ia atualizar as notícias, não disse que ia comentar".

Contralouco: "Lúcio, eu achava que o único que tava bêbado aqui era eu, por onde andou, não veio de casa agora, né?"

Lúcio dá um golpe no seu uísque, ri e diz: "Tá bom, mas tirando a última o resto é tudo verdade. Também tou atravessado, Contra, mas não posso contar ainda, é mulher de político influente".

Cícero do Pinho rasga o violão, Janjão rufa à cubana o seu bongô, e Jezebel do Cpers resplandece a rua com sua voz: "De noite, eu rondo a cidade, a te procurar, sem te encontrar...".

Todos se calam, emocionados.

Wilson Schu, o encarregado da carne, chega carregado, ao lado o Lorildo do Guajuviras com o carvão. O tonel cortado está à espera no canteiro no meio da rua. O Portuga vem lá de dentro e diz que devido à chuvinha é melhor fazer na calçada, sob a cobertura de cimento.

O Contralouco se levanta, pega dois guarda-chuvas dos que trouxeram e vai lá no canteiro. Arrasta o tonel para debaixo do pé de oliveira, enjambra os guarda-chuvas abertos nos galhos, e volta para a mesa dizendo: "Churrasco bom é no meio da rua, por mim que chova até canivete, vai ser lá!". Olha para o Portuga em pé servindo cervejas na mesa do lado e diz: "Cadê aquela cadeira que está em falso, Português? Hoje eu me vingo daquela puta". Não espera resposta e vai lá dentro, acha a cadeira manca e volta com ela para o canteiro. Uma porrada no poste e ela se desfaz. Joga os pedaços dentro do tonel e retorna dizendo ao Wilson: "Pronto, hoje vamos começar o fogo com cadeira".

Wilson Schu assume os espetos, é a sua vez. Lúcio Peregrino fecha o nóti, tira o chapéu e sai passando para angariar recursos para uma cadeira nova.

Leilinha Ferro, a luz que ilumina os olhos dos boêmios e boêmias, brota lindona na paisagem, sombrinha cor-de-rosa protegendo-a da chuva fina, sorriso de matar quem já viu tudo. Dormiu muito, ontem foi a uma festa. Os titulares correm a abraçá-la com esmagamento, os das outras mesas levantam à passagem para abracinhos e palavrinhas, ela tem uma para cada um.

Lúcio Peregrino, bem alto: "Ah, se eu tivesse cinco anos a menos...".

Leilinha, também alto: "Eu iria amar, tio Lúcio querido, mas não é cinco, é quinze!".

Mas ela não perdoa. Ternura e tal, mas quer é saber das charges do dia para mandar ao blog, a coluna A Charge do Dias é de sua responsabilidade: "Se eu deixo por vocês, tios e tias, sai lá pela meia-noite, Então, por favorzinho, já!".

Pausa para a votação. No meio da votação notaram que Cícero do Pinho entoava, solitário, lá no meio da chuvinha, no canteiro da rua a três metros do tonel, olhando para o céu escuro, rostinho molhado, ele e seu violão: "Ainda é cedo, amor, mal começaste a conhecer a vida...".

Wilson Schu seguiu virando os espetos, sonhador, como quem dança, leve risco de nostalgia no semblante. Jezebel corre sob a chuva e o abraça, ficam grudados por 3 minutos. A Jeze não existe.

Os empinantes e as empinantas, epa, empinantas não soa bem, sem querer o fantasma dedógrafo aqui acaba entrando no clima, mas vá lá... ficaram com o mestre Paixão, da Gazeta do Povo (Curitiba, PR). Obra-prima de tristeza e alegria, ai que vida, disse Jezebel.





E com o grande Aroeira, de O Dia (Rio de Janeiro, RJ), que não perdoa, rindo do horror.






Leilinha Ferro, mais uma vez, ficou com a obra do espetacular cearense Newton Silva. Segundo ela, o Newton diz tudo sobre tudo, por partes e inteiro. Jussara do Moscão comentou: "Hummm, acho que essa menina anda namorando o Z, aquele guri do PSol...". Tomara.




(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), devido a dívidas com o sistema bancário, ou agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro)















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2 comentarios:

  1. popular entre la tropa era Adelita...

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  2. Popular entre la tropa era Adelita,
    la mujer que el sargento idolatraba
    que además de ser valiente era bonita
    que hasta el mismo coronel la respetaba.

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