PT: enterro sem música, na Charge do Dias

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Carlinhos Adeva entra assoviando e se encaminha para as mesas juntas no centro, onde os companheiros conversam e folheiam jornais. Dá um Oi geral, senta-se e afrouxa a gravata. Depois de pedir ao Portuga um liso de fada verde exclama: "Gente, que dia tive hoje. Começou com o telefonema do ministro Joaquim, ele queria tirar umas dúvidas...".

"Ah, não, de novo com invencionices, vou tomar o meu trago lá na calçada", diz o Contralouco levantando.

Mal o Contralouco desaparece na porta ele confidencia aos amigos, com ar de preocupação: "No caminho pra cá vi os fanáticos do JD lá na esquina, bebendo e cheirando".

"Mas nós os proibimos até de passarem aqui pelo Beco do Oitavo, depois que quebramos  a cara deles", disse Lúcio Peregrino, indignado, ameaçando se levantar, no que é contido pelo Carlinhos.

"Eu sei, por isso mesmo que tou falando: talvez eles queiram pegar o Contralouco, andou arrebentando de novo com dois deles, outro dia lá no Menino Deus. Esses caras são doentes, e hoje são muitos".

Aristarco de Serraria: "Em quantos eles estão?".

"Sete".

"Então não esquenta, em sete o Contra bate sozinho. Mas pelo sim, pelo não, daqui a pouco o Moscão estará chegando, ele também adora os psicopatas, se lhe tirarmos esse prazer vai ficar de mal com a gente. Em último caso, vai o Lúcio".

Aristarco disse isso e voltou tranquilamente ao assunto de que antes tratava.

"Como eu tava dizendo, vejam bem, o povo tem no subsconsciente que quem está concorrendo não é gente da Dilma. Pressente mais: que a Dilma não é petê, que os caras que estão concorrendo são os amigos do Lula, dos mensaleiros e dos ministros mãos-de-gato que a Dilma teve que botar na rua...".

Lúcio Peregrino: "O Lula usou a Dilma na esperança de limpar um pouco da sujeira que espalhou. A ninguém mais poderia confiar essa tarefa, no partido só tinha lobo viciado como ele, buscou fora".

Tigran Gdansk: "Funcionou. Muitos não culpam o Lula, acham que é um coitadinho que foi traído. Se fosse outro, que não a Dilma, hoje ele é que seria o principal réu no Supremo".

"Isso também. Muito por causa do Bolsa Família, que ele tirou dos remediados para dar aos famintos. Pois é, seguindo: me dei ao trabalho de dar uma olhada nas candidaturas nas principais capitais do Brasil:  Segundo as pesquisas, o PT perderá a eleição em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Cuiabá, Manaus, João Pessoa, Campo Grande e por aí vai. Em muitas delas, como Porto Alegre, levando uma verdadeira surra, aquele famoso percentual de 30% cativo desintegrou-se no ar. Em Recife entrou água e o robô do Lula empacou, vai perder pro PSB. Em Curitiba concorre a vice numa chapa que está em terceiro...".  

Gustavo Moscão, recém-chegado: "Então vão levar ferro em todas?!".

"Em todas, todas, não. Pra não dizer que não vão ganhar nada, parece que vencem em Goiânia, terra do Carlinhos Cachoeira e do Demóstenes. Pode até haver uma reviravolta no país inteiro, mas não creio".

Mr. Hyde: "E não se diga que o Lula e o José Dirceu são os únicos culpados por um desastre dessa magnitude: eles podem ser os principais, mas são muitos. Os culpados são todos os que hostilizaram aqueles que não se conformaram com o que estavam vendo e saíram ou acabaram expulsos do partido. Isso vem desde o ano de 1998. Eu saí em 2000. Ficaram os infiltrados, os gângsteres e os aproveitadores".

Tigran Gdansk: "E o povinho, inocente útil, que nós, culpados também, aliciamos. Levamos vinte anos para convencer os incautos, levaremos mais vinte para desconvencer, e isso sem devolver o poder aos bandidos maiores, os nazistas e latifundiários, que foram quem nos deram força, pela raiva, para lutar aquela luta inglória. Tarefa para Hércules".

Clóvis Baixo: "Ei, pára, não vale chorar, Tigran".

Carlinhos Adeva: "O Chico de Oliveira foi até 2003. Já Plínio de Arruda Sampaio, Helio Bicudo e Ivan Valente aguentaram até 2005. O Frei Betto nunca foi filiado, ajudou a construir o partido sem isso, mas também se mandou logo que viu onde estava metido. Uns demoraram mais, outros menos. Gente como Sandra Starling, Marina Silva, Heloísa Helena, meu Deus, todos...".

 

Aristarco: "Isso, caros doutores, bravo!".

Clóvis Baixo: "Podemos providenciar o enterro, então?".

Mr. Hyde: "Sem música".

O ator e teatrólogo Nicolau Gaiola chega puxando uma cadeira, todos se calam. Olha para os amigos com desconfiança e diz: "Não estão falando de política, né?". Todos fazem cara de não.

Nicolau pede uma cerveja e comenta: "Viram que o Brasil é o campeão mundial de consumo de crack?".

Lúcio Peregrino: "Pera aí, Nicolau, convenhamos: você detesta falação sobre políticos, mesmo sendo um cara culto, tal é o ódio por também ter sido traído pelo Lula e sua turma, mas tudo é política. Você sabe muito bem que isso é o resultado das políticas públicas adotadas pelos patifes que nós mesmos, o povo, elegemos há 30 anos. Ou não?!".

Nicolau: "Vou lá pra frente ficar com o Contralouco".

Leila Ferro chega e cobra as obras do dia. Ela admitiu a escolha de uma charge extra, além das duas rotineiras, pois o mestre Aroeira fez a alegria do Botequim nesta inesquecível quarta-feira. Vai para a parede, com o título de "O Cagado", também escolhido em votação. Muitos queriam "O deslumbrado inconsequente", mas foram vencidos, e alguém lembrou que esse nome já haviam dado ao Lula em outra oportunidade. Taí, o deslumbrado cagado, se nos permitem os cantineros.

Depois os boêmios ficaram com o Nani.

E com o Boopo, da Tribuna de Amparo (Amparo, SP).

Miss Leilinha Ferro escolheu a obra do Amâncio, de O Jornal de Hoje (Natal, RN).

(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), devido a dívidas com o sistema bancário, ou agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.)