martes, 30 de octubre de 2012

Cornos de ordem simples

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Este blog, que prima pela cultura e pelo bom-gosto, bem, nem sempre, novamente atento às novidades culturais..., bem, hoje não trataremos exatamente de novidades, encontrou alguns escritos do pensador francês François Marie Charles Fourier (Besançon, 7/4/1772 – Paris, 10/10/1837), que, na sinopse biográfica do Wikipédia, "foi um socialista francês da primeira parte do século XIX, um dos pais do cooperativismo. Foi também um crítico ferino (...) do capitalismo de sua época, e adversário da industrialização, da civilização urbana, do liberalismo e da família baseada no matrimônio e na monogamia.


O caráter jovial com que Fourier realizou algumas de suas críticas fez dele um dos grandes satíricos de todos os tempos. (...) antecipa a linhagem do socialismo libertário dentro do movimento socialista, mas também em linhas críticas da moral burguesa e cristã, restritiva do desejo e do prazer - neste sentido, sendo também um dos precursores da psicanálise. Em 1808 Fourier já argumentava abertamente em favor da igualdade de gênero entre homens e mulheres, apesar da palavra feminismo só ter surgido em 1837."

Em seu livro "Antes como agora", Tomás de Balangandãs nos conta que os pensamentos de Fourier sobre a cornudagem escandalizaram a sociedade da época, que, mesmo desejando levá-lo a conhecer a guilhotina, manteve um gélido silêncio a respeito, sabe como é, tem coisas em que é melhor não mexer.

A tradução é de Bernardo Esteves e Paulo Werneck, de quem são os dois parágrafos a seguir, que apresentam 18 dos 49 tipos da primeira parte da obra "Hiérarchie du cocuage" (1808), em excelente trabalho. Não entendemos a demolição nem o "utópico" do primeiro parágrafo dos estudantes, pelo pensar de alguém diferente do rebanho, mas supomos (um perigo) que se deve ao sistema onde servem, servimos nós, isto é, ao pensamento majoritário vigente neste comecinho de mais um vacilante século, vez que, ainda segundo Tomás de Balangandãs, o mundo em que vivemos é uma aparência frágil, nós somos uma aparência não confirmada, efêmeras aparições, amanhã adubos nos campos de França e do Alegrete.

A propósito de terrenas aflições, de exaltar alguns estudantes franceses (mestrado, doutorado, PhDpicados), que ao escolherem Fourier como tema, dedicam no trabalho de conclusão o seu esforço, em letras garrafais, aos cornos dos professores e colegas da universidade. "À tous les Cocus de l’Université". Os bons professores amam isso, o menino virou homem, é um corno dos nossos.


Em seu projeto de demolir a sociedade capitalista, o socialista utópico Charles Fourier (1772-1837) investiu contra as raízes mais profundas do sistema: o casamento monogâmico.

Idealizador de comunidades que prefiguram as utopias do amor livre no século 20, ele escreveu este "Quadro Analítico dos Cornos", com 76 tipos, do qual publicamos aqui uma seleção da primeira parte, "Cornos de ordem simples".


1. Corno em germe ou antecipado é aquele cuja mulher teve aventuras amorosas antes do sacramento e não entregou sua virgindade ao marido; como disse Molière, "se é pra ser só em germe, ele nem se incomoda". Nota: não são considerados cornos em germe os que sabem dos amores pregressos e, mesmo assim, enxergam conveniência no casamento; desse modo, aquele que se une a uma viúva não é corno em germe, nem aquele que conhece as relações anteriores da mulher e se acomoda.

2. Corno presumido é aquele que, muito antes do casamento, teme o destino comum, tortura a alma para escapar dele e sente a dor antes de prová-la realmente. Todos percebem que sua desconfiança só o levará à perdição na escolha da mulher e acelerar, por excesso de precaução, o acontecimento que ele tanto teme. Scarron retratou esse corno numa de suas novelas.

3. Corno imaginário é aquele que ainda não é corno, mas se lamenta acreditando que é. Este, assim como o presumido, sofre a dor imaginária antes da verdadeira. Molière retratou-o numa de suas peças.

4. Corno marcial ou fanfarrão é aquele que, ao fazer terríveis ameaças contra os galanteadores, acredita estar a salvo de suas investidas, mas acaba vestindo a carapuça ao mesmo tempo em que se gaba de ter escapado dela graças ao terror que espalha ostensivamente. Em geral, é corneado por um dos que aplaudem suas fanfarronadas e lhe garantem que ele é o único que sabe zelar pelo seu lar.

5. Corno arguto ou cauteloso é um homem fino e matreiro que, conhecendo todas as manhas do amor e farejando de longe os galanteadores, toma sábias providências para despistá-los. Leva notável vantagem sobre eles, mas, como até o mais hábil general no final experimenta dissabores, acaba subjugado ao destino comum. Pelo menos, embora seja corno, quase não é.

6. Corno engraçadinho é aquele que brinca com seus colegas e os trata como imbecis que bem que merecem o que lhes acontece. Os que o escutam se entreolham sorrindo e aplicam tacitamente o versículo do Evangelho: "Vês um cisco no olho do vizinho, não vês um poste no teu".

7. Corno puro e simples é um honorável ciumento que ignora sua desgraça e não se presta a piadas sobre seus atributos ou atitudes desajeitadas contra a mulher e seus perseguidores. De todas as espécies de corno, é a mais louvável.

8. Corno fatalista ou resignado é aquele que, desprovido de meios pessoais para segurar a esposa, se conforma com o que Deus quiser e se refugia na Justiça e no dever, lembrando que sua mulher seria mesmo culpada se o traísse --o que ela decerto faz.

9. Corno condenado ou designado é aquele que, afetado por deformidades ou enfermidades, assume o risco de se casar com uma mulher bonita. O público, chocado com tamanho contraste, condena-o por unanimidade a ostentar os chifres - e a sentença não poderia ser mais bem cumprida.

10. Corno irrepreensível ou vítima é aquele que, juntando a cortesia com as vantagens físicas e morais, e merecendo uma esposa honesta sob todos os pontos de vista, é no entanto traído por uma coquete, e recebe o apoio do público, que o declara digno de um destino melhor.

11. Corno por prescrição é aquele que se ausenta e faz longas viagens, enquanto a natureza toca os sentidos de uma esposa que, depois de se defender o bastante, é forçada pela duração das privações a aceitar o socorro de um vizinho caridoso.

12. Corno ocupado é aquele que o torvelinho dos negócios afasta continuamente da esposa, de quem ele nunca pode cuidar; ele é forçado a fazer vista grossa aos que acabam se tornando amigos discretos da família.

13. Corno doente é aquele que, por um imperativo de saúde, se abstém dos trabalhos da carne. O mínimo que sua mulher pode fazer é recorrer a substitutos, sem que o marido tenha o direito de se ofender.

14. Corno regenerador ou conservador é aquele que cuida dos interesses da comunidade, vigia a casa dos compadres e adverte que a honra deles está a perigo. Não vê, entretanto, o que acontece em seu próprio lar, e talvez devesse ser o sentinela de si mesmo, enfrentando a batalha no próprio front.

15. Corno publicitário é aquele que exalta as delícias do lar, estimulando todos a se casar e lamentando a infelicidade dos que se recusam a desfrutar como ele... de quê? Dos chifres. A quem ele faz a apologia do casamento? No mais das vezes, é a quem que lhe põe os chifres na cabeça.

16. Corno simpático é aquele que se afeiçoa aos amantes da mulher e se torna amigo íntimo. Alguns deles, quando a dama está de mau humor e brigada com o amante, o procuram para dizer "Faz tempo que a gente não se vê, estamos tristes. Não sei o que a nossa mulher tem. Venha nos fazer uma visita, isso vai distraí-la".

17. Corno tolerante ou bondoso é aquele que, tendo o amante da mulher hospedado em sua casa, se porta como um cavalheiro que faz as honras da casa, limita-se a repreender a dama secretamente e trata o amante como a todos, com a perfeita igualdade que a filosofia recomenda.

18. Corno recíproco é aquele que dá o troco e fecha os olhos, pois busca uma indenização na mulher ou parente daquele que lhe põe os chifres. Trata-se de uma dívida quitada: é melhor se calar num caso desses.

8 comentarios:

  1. Toda esposa precisa estar disposta a sacrificar seu orgulho. Toda vez que vc diz a seu esposo:_"Eu estava errada", vc sacrifica seu orgulho, assim como toda vez em que pede perdão. Vc sacrifica seu orgulho toda vez que seu esposo lhe diz "não" a respeito de algo, e vc escolhe aceitar a decisão dele sem criar um caso por isso. O orgulho é um dos inimigos do amor, e separa duas pessoas com opiniões diferentes que dizem estar certas... e todas nós somos infectadas pelo orgulho em algum momento... Se vc quer ter paz em seu lar, leve todo orgulho ao altar do sacrifício!!!

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  2. Valeu, Virtuosa, gostei muito, obrigado, com essa vou tomar um triplo de uísque. Abraço. Sala.

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  3. Muitos casais levam para o casamento sérias inseguranças que desafiam o relacionamento. Às vezes, os problemas no seu casamento podem ser realmente culpa do seu esposo. Você pode estar fazendo tudo certo e ainda assim enfrentar a dor, a decepção e o desânimo...Mas se continuar a fazer o que é certo, mesmo que seu esposo não esteja reagindo(e vc ache que ele não mereça!), a justiça cultivará uma colheita de bençãos, e Deus honrará a sua obediência. Não desista!!!

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  4. Bah, amiga querida, acertou em cheio. Spo tu mesmo, Virtuosa amada. Eu sempre fui um pé-de-cana, um terror, tudo culpa dos políticos, eu tinha vontade de..., aí me perdi. Comi as mulheres deles. Choro agora, snif. Agora passo para uma losninha quíntupla, sem gelo, a exemplo dos amigos do Botequim quando querem se atirar na frente do trem. Abração. São pessoas como tu que me encorajam a seguir alegre e feliz.
    Besito. Salito.

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  5. Igualmente vós, oh maridos, vivei com elas com entendimento, dando honra a mulher como vaso mais frágil. E, como sendo elas convosco herdeiras da graça da vida para que não sejam impedidas as vossas orações. Pedro 3 : 7.

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  6. Pertubei-me, ó querida. O melhor que me ocorreu foi colocar no blog um fox de 1937 do Mário Lago, meu velho amigo dos tempos de criança. É em tua homenagem. Preciso refletir! Abro um garrafão de vinho.
    Besito, Sala.
    Gudi naiti,

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  7. Gudi naiti, ex mai lovi!

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  8. Tomei meio garrafão e acordei dando um pulo na cama. Sonhei que minhas guampas iam daqui até Santa Tecla. Olhei pro lado, a véia roncava. Vou tomar o outro meio, pra ver se tudo isso desaparece. Ó virtuosa, sonharei contigo.
    Besos
    Sala

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