martes, 22 de mayo de 2012

Cabo Anselmo: ao traidor, a lei

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Na nota abaixo (excerto), oportunamente o jornalista Guálter George, na edição de hoje do jornal O Povo (Fortaleza, CE), dá conta do aparente dilema em que se encontra a Comissão de Anistia, que nesta data se debruça sobre o pedido de indenização feito pelo Cabo Anselmo. Estaria a Comissão entre a cruz e a espada? 

Cabo Anselmo, o traidor da resistência à ditadura, foi muito mais que um Judas como o da estória bíblica, pois este, alucinado com o seu ato, teria se enforcado tão logo consumada a traição que levou seu mestre à tortura e à morte. Cabo Anselmo entregou aos animais sanguinários todos que pôde, sem remorso, continuamente, até sua mulher, grávida de 7 meses, Soledad Barret Viedma (fotos). 

Judas, na educativa passagem bíblica, por um só momento de fraqueza, cobrou de si mesmo com a própria vida, e foi pouco.

Contudo, não há outro caminho, a União tem o dever de indenizá-lo pelos danos sofridos, se os sofreu, nas mãos dos açougueiros da ditadura, por maior que seja a repugnância que esse homem nos cause.

A repulsa infinita, inominável, é e sempre será pelos macabros torturadores – e seus idealizadores - que o levaram ao limite mais sórdido da condição humana. Milicos e Passarinhos e Delfins, na execução.

Na execução, centenas de civis, os grandes empresários, todos estão ai, podres de ricos, donos de tudo, mentindo ao povo. Esses os criminosos maiores. Esses a quem desejo a morte, ao ouvir trovoadas acordo com febre.

Na omissão outras centenas de covardes, que davam dinheiro para a matança de pessoas de bem, bem diferentes deles.

O covarde torturado somente passou do limite. A que ponto foi a tortura? Tem que entregar. Mas teve oportunidade de se matar ao sair sozinho depois, para entregar.

Esse bicho nojento foi falar no Roda Viva. Não sei o que me deu mais nojo: se esse pobre homem, ou o José Dirceu querendo aparecer na posse da Dilma, "companheira de armas", mas que armas, palhaço mentiroso?


Como disse Urariano Mota, que como nós nunca o viu pessoalmente: "Conheço o Cabo Anselmo por seus cadáveres, que ele arrasta como uma cauda. Fui, sou amigo de quem ele perseguiu, traiu e matou”.

Que a terra o cubra antes que possa gastar o maldito dinheiro.


A recompensa do guerrilheiro que virou delator


Guálter George

Um caso emblemático vai hoje à análise da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, aquela que decide quem deve ser indenizado e com qual valor por eventos relacionados à época do Regime Militar. Pela primeira vez, um agente duplo está requisitando anistia e indenização ao Estado, alegando ter sido perseguido pelo governo antes de passar à condição de colaborador. Há quem calcule em 200 o número de adversários do regime que caíram a partir das revelações do Cabo Anselmo, um ex-marinheiro que transformou-se em radical de esquerda e posteriormente em agente infiltrado. Com todo esse histórico, ele pleiteia a contagem do tempo de perseguição para efeitos de aposentadoria e uma indenização de R$ 100 mil.

A análise do pedido de reparação do Cabo Anselmo recoloca em debate a tese de que qualquer discussão que se faça sobre o que aconteceu durante o governo militar precisa considerar os dois lados da história. Ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, procurava tirar qualquer peso simbólico do que pode ser decidido no caso, justificando que ao governo, em qualquer circunstância, restará apenas cumprir a lei. É uma forma de tentar simplificar o debate, que é muito mais complexo do que ele tenta fazer crer, especialmente quando se está às portas de início efetivo de trabalho de uma Comissão da Verdade.

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