martes, 1 de mayo de 2012

Suave é a noite

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Foi um bom domingo. Agora segunda, já terça, no apartamento silencioso e vazio, com um vento gelado entrando pela janela. 

Eu sentado no sofazinho na sala do covil, à minha frente um copo cheio de vinho. Ao lado, no chão, o último vidro vazio, cruzes, matei dois litros e meio. Yo de amarelo e preto, visto uma camisa falsa do Peñarol de Montevideo, comprada no camelódromo de Porto Alegre, ah, carbonero. Sinto frio mas ela me aquece, nada neste mundo me faria levantar, o frio não é na pele. O quarto está uma bagunça mesmo, não vou lá.  

Acho que tenho outra garrafa atrás da geladeira.

Sem música no toca-discos, é tarde, os vizinhos do pombal dormem. O outono se insinua forte. Sai seu cara de inverno, me deixa em paz pelo amor de Deus.

Então bate esta nostalgia que finjo não saber do quê, mas sei muito bem. Já corri ao banheiro lavar o rosto cinco vezes, mas as lágrimas voltam. Até as lágrimas são cíclicas. Nunca somem de vez, apenas esperam, sabem que vão voltar. Quando voltam é em turbilhão, saem aos uivos do cárcere onde estavam retidas, nervosas, malvadas porque tentei esquecê-las. Vingativas. Oceano de amargura, sinto que elas também não gostam, mas não sei, não nos entendemos, não consigo.

Vento que assovia nesta madrugada, ouço a melodia.

Eu errei?

Lembro muito bem daquela longínqua noite no apartamento de aluguel da Rua da Varzinha, quando tudo começou a se acabar. Uma moça sem mancada, apenas muito silenciosa, teimosa por não saber. Detesto silêncio, eu precisava falar, lamber e curar as feridas. Como pude? Quanto despreparo.

Era uma noite como esta.

Agora sou estranhamente silencioso, um sepulcro, mais um empurraozinho e alma penada. Não, eu... não era pra ser assim...

Salvo quando bebo demais, ah, aí falo, ilusões, canto, festejo, pego na loteria, tenho amigos e amores, mas tudo só para dentro, até digo baixinho, em noites especiais, com voz de verdade mesmo, duas ou três palavras para a parede, sussurradas. No outro dia me arrependo.

Odeio essa muda, confissão nem para paredes. São como seres humanos. Como eu, gente que pensa só em si, a condição humana de novo... Mas pera aí, eu não, eu só não me matei porque seria covardia sem levar junto um banqueiro... Elas se calam, como quem diz pensa de novo, tua vida, por um... Elas são más.

No silêncio, a minha voz do cérebro diz calma, tudo passa.

As lágrimas teimam, ardem, revolteiam, me cegam, gritam aos derramos, alucinadas, Não passa.

Passa sim, grito cego em silêncio no apartamento.

Medo de acordar os vizinhos, se a agulha não tivesse quebrado, perigava eu tocar lágrimas negras.

Lágrimas irresponsáveis, jamais se dão por vencidas.

Têm a quem puxar.

Cadê o abridor? Aqui. Vou dormir atrás da geladeira.

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