jueves, 16 de mayo de 2013

Eu e Frida e o Contralouco em crise

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Deu-se que Bruno Contralouco acordou o Portuga às 4:30 da manhã. Começou falando na Srta. Frida von Allenborn, e foi emendando assuntos, de repente falava na sua triste infância. Isso lá da calçada, quase ensopado pela chuva fina que descia sobre Porto Alegre. A vizinhança inteira ouvindo as lamúrias, a voz sentida. O Portuga se fazendo de dormindo, recém tinha deitado, depois de uma noite de muito movimento no bar. Aí o artista resolveu cantar Ninguém me Ama.

O velhinho do segundo andar acordou com a mulher lhe chacoalhando, tome uma providência, homem, isto são horas de conversaiada e choro na janela da gente, agora o maluco deu de cantar, ora onde já se viu. O velho sentou na cama e ouviu o final: "Vim pela noite tão longa de fracasso em fracasso, e hoje distante de tudo me resta o cansaço, cansaço da vida, cansaço de mim, velhice chegando, e eu chegando ao fim, Ninguém me ama, ninguém me quer...". 

E o Contralouco recuperou seus argumentos e seguiu, dizendo, no seu papo com o vizinho mais de cima, que "Cada parente, cada amigo, era um ladrão, me abandonaram e roubaram o que amei". 

Saindo da janela, o velho disse à sua esposa: na primeira quase me deu um troço, agora o moço só recitou um pedaço da última canção, deveria ter cantado, se ele começar a cantar eu juro que abro aquela garrafa de uísque que está há anos ali na sala, presente do teu filhinho filho da puta, e se você der um pio para atrapalhar o moço, um piozinho só, eu te dou uma porrada e desço chorar com ele.

O Portuga aguentou, aguentou, bêbedo triste é foda, há que se ter paciência, há que se demonstrar o carinho pelo amigo querido, mesmo a esta hora, desguampado... mas depois de meia hora escancarou a veneziana e foi direto:

- Muito béim, especial confrade Contra, já sabemus todus nu prédio, pourra de infância, pourra de mulheres, tudo burras ou interesséiras, ou as duas coisas, uma puxa a outra, te compreendo nuvamante, muito sufri tmbém. Mas o que é que queires mesmo? Entras, homem de Deus, comes e dormes aqui, Carmélia esquenta a comida. Estou a dormir com a família, ó gajo!

- Eu quero a chave do bar, ó portugalino sabido, não caiu a ficha? Vou pra lá agora. Tou estacionado aqui na frente, atire a chave aí pela janela mesmo, ou "queires" que eu derrube a porta do botequim, ó... gajo.

António Portuga jogou as chaves e em seguida pegou o telefone para soar o alarme, o Contralouco não estava bem, soube pelo seu jeitão lá na calçada, três andares abaixo.

O Contra se abaixou para pegar o molho de chaves na calçada quando caiu um CD, logo um cravo vermelho. Olhou para cima e viu que o CD era de um coroa do segundo andar, retribuiu instintivamente o gesto de saudação de carinho, olhou a capa do CD antes de enfiá-lo no bolso, Los Olimareños. A flor saiu do quarto andar, mas só viu os cabelos da ruiva de relance, tímida se retirando, talvez arrependida, naquela de o que ele vai pensar de mim. Não precisamos dizer que aquela flor salvou-lhe a vida: semente de esperança, "Vai que amanhã eu esteja enfiado nos lençóis da ruiva, que ela seja alegre, sincera, goste de música de qualidade...", bem, pensamentos de boêmio quando se sente iluminado, até bonito por uma palavra boa, sem galinhagem ainda, bah, tou com barba de três dias, será que ela..., não tomei banho, e se intimida mas voa ouvindo um voz doce que não veio, venha tomar banho comigo, Bruno..., vou fazer comida, você deve estar com fome... os trilhões de leitores, dois, cada um vale um trilhão, de mente fértil, podem imaginar o restante, uuui.

Claro que logo caiu em si, ensopado de chuva, a janela do quarto andar fechada. Na mão direita o cravo de rosa, no bolso o CD dos Olimareños, a testemunharem que não foi um sonho, não estou louco. Na esquerda as chaves do botequim. Saiu dançando sob chuva, cantando "Louco, pelas ruas ele andava...".

Wilson Schu, sabedor do carinho que temos pelo Contra, repassou-me imediatamente a advertência, a recebi no saguão do aeroporto. Olhei para Mariana de Rosário e disse a ela, querendo fazer graça, o Contra sempre é uma graça: "Não puderei ir, ó gaja, surgiu um imprevisto de amore, vai indo, as negras te esperam em Montevideo". Um parto, derrubou o casaco de pele de médico (outro dia esfolamos um) no saguão, churando, aí, Salito, não me abndones, náo me deixes só..., fiasquenta, imitando a mim que imitava o Portuga. 

A sério, depois: Mariana achou que eu poderia estar a correr perigo e empacou, querendo saber o quê e onde. Alguém aí conhece Mariana de Rosário, a índia da Serra do Caverá? Não recomendo. Mulher é foda, haja paciência. Consegui sair às seis da manhã, quase que ela me perde o teco-teco, de raiva rasgou a pele do médico e jogou no lixo. Melhor pular esta parte.

Entramos no botequim, Schu e eu, às 8 da manhã. Kafil M'Oba e Miquirina Segundo ficaram no carro. O bar já estava cheio, o próprio portugalino chegou às 7:30 h. Um frio comendo, Porto Alegre em dia de inverno no outono.

Aquele monte de mesas no centro do bar, pela ordem de visão com Silvana Maresia, Aristarco de Serraria, Lorildo de Guajuviras, Jezebel do Cpers, Carlinhos Adeva, Gustavo Moscão, Jussara do Moscão, Tigran Gdanski, Clóvis Baixo, Janjão, Zilá, Nicolau Gaiola, Walter Schiru e Marquito Açafrão. Chegando logo atrás de nós, Alex Sociológico, o jovem doutor argentino. Alguns ainda estavam a caminho, Jucão da Maresia teve um rolo e os outros sei lá. João da Noite voltou para o fundão depois do Espinilho, em Palmeira das Missões. 

O Contralouco na ponta da mesa de lá, abaixado escrevendo, sôfrego, alguma coisa no seu caderninho negro, à sua frente um copão de dyabla verde pela metade.

Cumprimentei, Oi amigo Bruno. Nem me ouviu. Puxamos cadeiras e sentamos. Dali a pouco ele ergueu a cabeça devagar, e me olhou espantado, dizendo num sussurro:

- Salito, é tu mesmo? -, e me estendeu a mão, quase esmagou a minha. E tornou a se debruçar sobre o caderninho.

Entra a alemânica Mareu do Mato e exclama: - Quero parceria para jogar sinuca! 

Carlinhos Adeva e Silvana Maresia topam, se levantando, enquanto Aristarco com os olhos diz a todos para relaxarem, deixem o louco quieto. Schiru bota música. 

A quem passa parece um dia como outro qualquer. Talvez seja.

Os homens tomam dyabla verde, elas vermute com uísque. Brotam assuntos, vão-se avolumando, a raça do Inter que venceu, o Grêmio que vai à luta logo à noite, os salários de 500 mil dos falsos atletas, metade para o bolso dos dirigentes, eta exagero mas vá saber, aquela música liiiiiindaaa com a amada Mariana Aydar... 

Eu, para contrariar, pedi um rabo-de-galo ao Portuga, dia ruim merece bebida ruim.

Repentinamente o Contralouco pára de escrever, levanta a cabeça e cheira o ambiente com volúpia. Não fosse o rosto e os olhos raivosos o som seria do fauno ao perceber a ninfa.

Deu um pulo e saiu disparado porta afora, gritando "Eles vieram, vou matar eles". Vai sem sic, ó analfabeto ministro da deseducação do Brasil, tente São Paulo, a torcida da escuridão talvez te eleja, afinal é a escuridão que elege a todos, até porque o som é "vô matá eles". (Ops, entrei no clima do Bruno?)

Quem conhece o Bruno Contralouco sabe que ninguém deveria ousar sair atrás. Ninguém se mexeu. Olhando por mim, eu tinha Kafil e Miquirina Segundo cuidando lá fora, discretos. Com um gesto tranquilizei o pessoal. Os meus cuidam as minhas costas, pelo perigo do dono do Banco Itaú, o chefão que me persegue, e dos larápios do Banco do Brasil, aqui a responsabilidade é difusa, vamos ver; mas que, subsidiariamente, nessas horas olhavam por todos nós. No limite, cuidariam do Bruno.

O seu caderninho ficou aberto. Jezebel do Cpers, a super doutora das professoras do Rio Grande do Sul, o pegou e disse: "Quem está aqui ama o Bruno, hoje ele não está muito bem. Vou ler os seus riscos, invadir a sua privacidade, vou cometer um crime hediondo em voz alta, pois estou com medo por ele". E leu.

Na primeira página, uma letrinha de mulher:

"Não esqueça, Bruno, nunca fale mal dos teus inimigos, dos dinheiristas covardes que você odeia. Ao desabafar, critique aqueles a quem você ama ou amou e te decepcionaram, com o intuito de reconstruir. Nunca fale dos nazistas do DEM, do deputado gaúcho que propõe prisão para moços tristes sem horizonte que se drogam, nunca fale desses animais. Beijo. Aracelli."

Silêncio no bar.

Na página seguinte, letra dele: "Títulos para a coluna A Charge do Dias, do amigo Salito, não importa o conteúdo:

- A ... da Dilma. (evitamos a palavra chula)
- O cuzão do Lula (Seco, dizer que a merda sai pela boca).
- A hipocrisia do general Aloisio Mercadinho
- A superioridade moral que sucumbiu, Suplicy
- A Marta é dadeira mas não sabe chupar
- O sarcófago do Marco Aurélio Garcia
- JD, o brochão mão-fina
- As capadas do JD

Não esquecer:

- O peido do prefeito de Canoas (não citar o nome nem para insultar)
- Um cuspe chamado Arno
- Perguntar à frígida Marilena Chauí quem ela é, povão, filhinha de papai ou uma bosta ambulante
- Morrer
- Não esquecer de mandar e-mail para o querido amigo Román Riquelme.
- Não esquecer de desprezar o povo da escuridão, a torcida do Corinthians, e o cuzão do Lula esgoto pela boca.
- Entrar de sola no Ronaldão CBF analfa, símbolo da escuridão
- Botar uma bomba na Globo
- Estrangular o Topo Gigio dominical
- Morrer
- Morrer
- Morrer


Congelamento no bar. Aqui imaginamos que a flor não foi o suficiente para dar forças ao boêmio, logo foi tomado por pensamentinhos de sangue. Gustavo falou em procurar um médico. Alex Sociológico, na mesa ao lado, grudada, deitou-se de rir ao ouvir a sugestão. Depois disse: "O médico é ele, o Contralouco, não insulte assim o boêmio, isso passa, tá de fogo somente".

Em meia hora o Bruno retornou. Disse que estava cansado, precisava dormir. Os companheiros se certificaram de que foi para casa, ali perto, e de que se deitou.

No caminho para o aeroporto, para pegar o primeiro que tivesse, Miquirina e Kafil com os olhos sortearam quem me contaria. Sobrou para o Miquirina. O angolano respirou fundo e soltou:

- O Contra saiu cheirando o ar e lá na esquina encontrou o fedor que lhe incomodava. O sujeito o viu de longe, largou um livro sujo e avançou alucinado, de voadora, o Contra tirou o corpo. Veio de novo a la UFC, feito putinho de televisão, o Contra aparou o golpe no rosto. O marmanjo tinha uns cem quilos, enorme, de preto dos Jesus dos Últimos Dias. Durou dez minutos a peleia, pois o bandido puxou uma faca debaixo da roupa preta, o Contra se defendeu, dançava e batia, ele parece nervoso mas para certas coisas é calmo. O Kafil se segurou no auto para não ir lá, de faca também não.

- Relaxamos, Salito, quando o Contralouco saltou de lado e  pegou o elemento que se dizia pastor. A vinte metros deu para ouvir o créc da cabeça torcida. O bandido ganhou mesmo o Último Dia, duvido que com o aval de Jesus, foi é para o inferno, vai ver o que o espera.


Mandei um torpedo gelado para o Schu, no texto só o número: "49". Segundo fofocas saídas não se sabe de onde, até o mês passado o Contra só tinha, ahm, digamos, encaminhado 48 para o capeta, a maioria da universal$.

Tomara que eu consiga vôo para hoje, tomara que elas estejam bem. Tomara que o Bruno, durante o sono, nos seus pesadelos, esqueça os animais do Desaloja Satanás com que iludem aos que invadem estádios aos berros idolatrando outros coitados, adoraria que ele voltasse a sua atenção para os políticos do Partido do Robalo - PR, para começar. Bah, extensa lista, essa de partidos do mal.

Tomara que este avião não caia, hoje não. Tomara que me surja uma Frida solteira sem filhos, de casadas e viúvas estou por aqui. Tomara que ela seja corajosa. Tomara que eu encontre um amor. Tomara que aquele bar de Montevideo esteja aberto. 

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