miércoles, 25 de abril de 2012

Custódio Mesquita, boêmio

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Custódio Mesquita de Pinheiro (Rio de Janeiro, 25/4/1910 - 13/3/1945) viveu apenas 34 anos. Sua obra é bastante conhecida (veja Cravo Albin), com grandes sucessos como Nada Além (com Mário Lago), Mulher (com Sadi Cabral) e Saia do (meu) Caminho (com Evaldo Rui) e tantos outros.

Hoje trazemos alguns detalhes da vida do artista boêmio, pescados de Araújo Bossa Nova:

Alto, com cerca de um metro e oitenta, Custódio chamava atenção por causa de sua beleza. Introvertido, era às vezes considerado esquisito e mesmo seus melhores amigos afirmam nunca tê-lo conhecido profundamente. Devido à sua vaidade exagerada, algumas pessoas o consideravam arrogante e até presunçoso. Certa vez Orestes Barbosa fez um comentário, ao ver a dupla Custódio-Mário Lago: "Ali vai o Narciso com o seu lago..."

Levava uma vida desregrada, alimentava-se mal, e nunca chegava em casa antes das 6 da manhã. Arrumava sempre uma desculpa para segurar seus amigos até o raiar do sol, pois dizia não suportar a solidão. Depois de sua morte, soube-se que ele era epiléptico, mas não deixava ninguém saber, porque temia que as pessoas pensassem que era contagiante e assim se afastassem dele. Tomava uma pílula misteriosa, provavelmente de Luminal, para evitar crises de epilepsia, o que acabou gerando o boato de que usava drogas.

Ao contrário da grande maioria dos artistas da época, Custódio não freqüentava os pontos de encontro dos compositores, como a Lapa, a Praça Tiradentes e o Café Papagaio. No Café Nice foi visto poucas vezes. Preferia visitar amigos, cabarés e dancings.

Tornou-se, com o passar do tempo, uma figura misteriosa, rodeada de lendas. Assim como Noel Rosa, seu colega de profissão e de noitadas, o pianista era amante dos passeios noturnos, convivendo com os mais diversos habitantes da madrugada, desde mendigos na rua, até intelectuais nos lugares mais chiques da cidade. Numa dessas noites, Custódio foi abordado por um mendigo e sua família que passavam frio e fome na rua. Sensibilizado, deu ao homem seu relógio de ouro e brilhantes, com corrente e tudo. Advertido por Mário Lago de que o homem poderia ser preso ao tentar vender o relógio, Custódio telefonou para todas as delegacias do Centro e avisou que, no caso de encontrarem um mendigo tentando vender um relógio de ouro, nada fizessem contra o pobre homem, porque ele não era ladrão.

Já num momento de extrema arrogância, ficou profundamente irritado ao ser barrado pelo porteiro que não o conhecia numa peça de teatro na qual tinha composto a trilha sonora. Quando o funcionário pediu que mostrasse os documentos, Custódio, sem pensar duas vezes, respondeu-lhe que quem usa documento é malandro. "Cavalheiros usam cartão de visita". Depositou seu cartão na mão do homem e entrou sem esperar resposta.

Mário Lago, um de seus principais parceiros, narra em seu livro Na rolança do tempo como foi seu primeiro encontro com Custódio: "Nos primeiros momentos em que me apresentaram ao Custódio Mesquita a impressão não foi das mais agradáveis. Aconteceu no bar Nacional, na Galeria Cruzeiro. (...) De repente, o secretário de Francisco Alves aproximou-se da mesa. O cantor, já célebre nessa época, mandava pedir ao Custódio que desse um pulo até sua casa para mostrar as novidades acabadas de sair do forno. Estava preparando um disco e gostaria de incluir alguma coisa do autor de ‘Se a lua contasse’...

- O Chico sabe muito bem onde eu moro. Se está querendo músicas, é só me procurar na Ipiranga, 32. A distância é a mesma, diga isso para ele.

O pobrezinho do secretário do Francisco Alves saiu que dava pena, quase ao ponto de pedir desculpas por haver nascido, enquanto o Custódio comentava, mal contendo a irritação:

- Viu só, seu Mário Azevedo, como essa gente está ficando abusada? Era só o que faltava, eu... eu sair de minha casa pra ir mostrar música a um cantor. Eu sou o Custódio Mesquita, pomba!

Aqui a sua marcha Se a Lua Contasse, sucesso na voz de Aurora Miranda, em 1933.


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