O senador Demóstenes Torres (GO) foi orientado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a trocar o oposicionista DEM pelo governista PMDB para se aproximar do Palácio do Planalto na tentativa de fortalecer seus negócios. Diálogos obtidos pela revista Época mostram como Cachoeira interferia no mandato do senador, reeleito por 2,15 milhões de eleitores goianos em 2010.
“E fica bom demais se você for pro PMDB… Ela quer falar com você? A Dilma? A Dilma quer falar com você, não?”, pergunta Cachoeira. O senador responde: “Por debaixo, mas se eu decidir ela fala. Ela quer sentar comigo se eu for mesmo. Não é pra enrolar”. O contraventor incentiva o encontro: “Ah, então vai, uai, fala que vai, ela te chama lá”. O diálogo, gravado com autorização judicial, ocorreu em abril de 2011, quando Demóstenes era líder do DEM no Senado e um dos principais opositores do governo Dilma no Congresso. O Planalto informou à revista que Dilma nunca recebeu o senador desde que assumiu a Presidência.
De acordo com a reportagem, de Andrei Meirelles e Murilo Ramos, Demóstenes negociava a mudança de partido com a cúpula do PMDB e já tinha até o aval do Planalto. Mas desistiu da ideia com receio de perder o mandato para o DEM por infidelidade partidária. Além da abertura de novo canal no governo, a troca tinha outro propósito, segundo a matéria: trilhar uma futura indicação de Demóstenes para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Tocantins
No mesmo diálogo, Cachoeira pede ao senador para tentar influenciar na decisão do ministro Luiz Fux, do STF, no julgamento de um recurso do ex-governador tocantinense Marcelo Miranda (PMDB), barrado inicialmente pela Lei da Ficha Limpa. Em 2010, Miranda foi o segundo mais votado na eleição para senador no estado. “Ele é um cara nosso”, disse o contraventor na conversa interceptada pela Polícia Federal.
Apesar de Demóstenes ter se comprometido a atender ao pedido de Cachoeira, a conversa com o ministro não ocorreu, segundo o próprio Fux. O ministro liberou a posse do senador eleito, mas voltou atrás dias depois, alegando que Miranda estava inelegível não pela Ficha Limpa, tornada sem efeito para 2010, mas por causa dos efeitos da condenação por abuso de poder econômico. O peemedebista nega ter qualquer relação com Cachoeira.
A primeira decisão de Fux chegou a ser comemorada por Cachoeira e Cláudio Abreu, um de seus sócios e diretor afastado da Delta Construções. “Chefia, o Marcelo Miranda é senador”, diz Cláudio. “O bom é que eu sei que ele vai ser procurador seu e meu, né?”
Os áudios divulgados por Época mostram, ainda, que Cachoeira também demonstrava influência sobre outra importante figura da política de Tocantins, o ex-senador Eduardo Siqueira Campos, atual secretário estadual de seu pai, o governador Siqueira Campos (PSDB). “Eduardo também é bom, Carlinhos. Não pode falar mal dele não, cara”, diz Abreu. “Ele mandou dar o negócio para nós lá: a inspeção veicular do Tocantins.” Eduardo Siqueira Campos também nega envolvimento com o contraventor e diz que não há definição sobre a exploração da inspeção veicular no estado.
Brasília
Cachoeira e Abreu também discutem, em outra conversa interceptada pela polícia, a possibilidade de a Delta conseguir um contrato de R$ 60 milhões para atuar no sistema automatizado de cobrança de passagem de ônibus. A construtora e o GDF dizem desconhecer o assunto.
Preso há um mês na Penitenciária de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Cachoeira pediu ontem transferência para Brasília. Ele é acusado de comandar um esquema de jogo ilegal, com exploração de caça-níqueis, desbaratado pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo.
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