viernes, 2 de diciembre de 2011

Oswaldo Nunes

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Eu não tenho, como Salito (ele tem sim, mas também nem tanto), estômago nem nervos que suportem ficar falando de víboras por muito tempo, víboras que tanto mal causam às crianças e aos povos do planeta. Só por dinheiro, como se caixão tivesse gaveta. Acabou, senhores, hoje todos sabem quem são vocês, sentimos pena de suas tenebrosas almas, um tentando provar ao outro que pode mais, que tem mais, lá de dentro dos palacetes mal havidos, dos seus carros importados e das suas vidas amorfas. Logo esse entendimento chegará a plebe, e não sabemos se esta sentirá pena ou se será outra a reação, e se as classes armadas, peões que também são, poderão protegê-los. O caos, preferível a maldita escravidão.

Alienado não sou, não vejo a tevê da invasão, esse comércio  malicioso,  propositadamente emburrecedor,  cometido por compatriotas e aliens. Detesto lavagem cerebral, não me alimento no McGraxas.

Mas para mim chega, por um bom tempo. Esta aguardente está me pegando.
Volta, Sala.

Prefiro resgatar a memória dos artistas do Brasil, dentro do possível do mundo, que é a que se propôs inicialmente este blog. Ainda que com algumas tristes passagens.

Oswaldo Nunes (2/12/1930 - 18/6/1991, Rio de Janeiro, RJ), cantor e compositor. O Dicionário Cravo Albin diz:  Não chegou a conhecer os pais e foi criado em instituições de caridade. Trabalhou como baleiro, engraxate e camelô, além de artista ambulante. Já maior de idade, enveredou pela marginalidade até que, frequentando escolas de sambas e blocos de carnaval acabou por enveredar pela carreira artística. Foi assassinado misteriosamente em seu apartamento no Rio de Janeiro.

Não foi bem assim, no que se refere a sua morte.

Uma só de suas obras bastaria para inscrevê-lo como grande artista brasileiro. Em 1962 compôs a batucada "Oba", que se tornou o hino oficial do célebre Bloco Carnavalesco Bafo da Onça, que até hoje embala os seus desfiles. 

Rita Colaço resume bem quem foi Oswaldo.

"Pude recordar sambas de enorme popularidade, que atravessaram anos acompanhando gerações com alegria, irreverência e apelo sensual (de uma forma, digamos, menos explícita/rude que a atualmente vigente); conhecer parte da história (não tive a alegria de ouvir o primeiro programa) de um bloco que gozou de enorme popularidade - juntamente com o Cacique de Ramos e o Cordão da Bola Preta, naquele universo anterior às bandas; conhecer artistas e canções que não havia ainda tido acesso e, sobretudo, matar as saudades de um cantor e compositor popular, cuja forma de interpretar era peculiaríssima pelo "incremento" que inseria em paralelo à letra - como uma "assinatura" ao texto. Inesquecível tambem a sua alegria e irreverência.

Estou falando de Osvaldo Nunes. Um negro que não era bonito ou "bem apessoado", segundo o padrão hegemônico, mas dotado de um carisma invejável. Impossível ouvir suas interpretações e depois esquecê-lo. Eu, como tantas pessoas de minha geração e das anteriores, embora nunca tivesse sido apaixonada por samba e seu universo, tinha enorme simpatia por esse artista de estilo peculiar."

"A marca de um modo de ser leve, irreverente e, em certo sentido, ingênuo - embora tenham sido igualmente tempos terríveis, na medida em que tinham por trás o cenário do regime ditatorial, com seu autoritarismo e arrogância característicos, muita perseguição ideológica, tortura e morte não somente àqueles que buscavam resistir ao regime, lutando por um país melhor, mas a qualquer indivíduo que ousasse não dissimular suas opiniões críticas a respeito da situação do país, bem como a qualquer um que tivesse a desventura de vir a ser classificado pelos fiscais voluntários do regime como alguem esquisito, diferente, perigoso.

Recordo o impacto que me produziu a notícia de seu bárbaro assassinato, perpetrado no interior de seu apartamento, na Lapa dos anos 1991, segundo sensacionalisticamente noticiado à época, por um michê.

Recordo, igualmente, o modo preconceituoso de veiculação da notícia, como usual àquela época, sempre atribuindo à vítima a "culpa" pelo seu martírio - semelhantemente às condenações das mulheres estupradas e assassinadas pelos ex-maridos e namorados.

Lembro que ainda há poucos anos atrás ouvi de um veterano apresentador de programa radiofônico, vinculado a emissora tradicional na cultura carioca e brasileira, referir-se ao seu assassinato ainda naquele mesmo registro da noção da "retribuição merecida"."

Grato, Rita (clicando em seu nome, lá em cima, cai no blog), por permitir a reprodução de suas palavras e seus sentimentos.
João.
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