viernes, 22 de junio de 2012

O senador Eduardo Suplicy na Charge do Dias

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No Beco do Oitavo os boêmios tardaram a escolher a obra para a Charge do Dias. Bebericaram a tarde inteira, preocupados com Carlinhos Adeva, que vinha de uma importante missão em São Paulo. Deveria ter chegado no meio da tarde. Apareceu às dez da noite, morto de cansado, cara de poucos amigos, quando todos já estavam apavorados procurando queda de avião no noticiário da internet (obviamente que ali no Beco nem em caso de morte ligam no jornal da globo, que de nacional nunca teve nada).

Sobre os  percalços da viagem falaremos amanhã, o bolero é longo.

Pois Carlos Adeva, o nobre causídico da turma, o melhor advogado que vimos em ação, e vemos muitos pelo canal do STF, rios de pedantismo e hipocrisia tolerados num código de espertos (espertos a considerar a massa ignara), sempre retorna quieto, mas calmo. Hoje não. Alguma coisa ocorreu que não caiu dançando.

Carlos não, Carlos é odiado pela inveja dos falsos profetas do dinheiro, Carlos é um oceano de talento, diz a verdade na cara, trabalha de graça para quem precisa, odeia dinheiro, cobra o mínimo para sobreviver, de quem pode pagar, não é como moleques ricaços que assaltam mafiosos e trabalham para mensaleiros, periga até virarem ministros no país do lixo, ah, nenhum deles dá um dedo do Carlos.

Carlos saiu preso certa vez, de um tribunal de São Paulo, por chamar um juiz, presidente de tribunal superior, cheio de comparsas, outros juízes e advogados, ricos, de ladrão. Muitos anos depois prenderam um tal de Lalau. Durante esses anos, Carlos passou fome e quase foi banido da Ordem, por falta de pagamento da anuidade dos burocratinos perversos.

Carlinhos Adeva não leva papéis coloridos, todo afrescurado, para preparar os reis de merdas douradas, com aqui estão os nossos argumentos, excelência, em vídeo, 3D, milésima geração. Nada, é homem e seus argumentos são irrefutáveis mesmo datilografados em papel de pão.

Se mamasse ovo e defendesse mensaleiros seria o ministro mais jovem do Supremo. Mas não, Carlos não é um merdinha a subir empurrado por políticos corruptos. Nada de apresentar textos com citações em inglês de MacGraxas de luz amarela num país de escravos pela injustiça, nada de em grego defender pelegos sem alma, papinho de camaradas, com o artigo quinto tiram da cadeia assassinos mafiosos, mas jamais homens simples presos por engano. Carlos vai no osso, uma única lei consigo: a Constituição e o direito natural na cabeça.

Putz, me estendi, falei um pouquinho do Carlos, advogado (adeva, cá entre nós) número tal. Se aqui declinasse o número, as coisas se complicariam na semana que vem. No começo para nós, depois eles iriam ver.

Sempre recusou o sistema viciado, do levar vantagem sobre o povinho que não tem como se defender, recusou-se a ser mais um covarde, sabendo que morreria de fome. E foi aí que o tiramos para amigo querido.

E agora no bar quieto como só, amuado.

Na metade da primeira cerveja examinou as obras expostas sobre a mesa. Sabia que Leila Ferro precisava enviar com urgência o resultado da votação a este detestado blog. E foi breve. Mesmo com uma ponta de tristeza, seus olhos num átimo se iluminaram ao passar pela obra do Cláudio, do Agora S. Paulo (São Paulo, SP). Depois tornou a se fechar no escuro.

Disse algumas palavras, iniciou de cabeça baixa, mirando o copo: "Muitos e muitos anos depois que tivermos partido para outra, meus amigos, quando o  futuro recordar a tentativa que fizemos de mudar o Brasil nos últimos 50 anos, só um nome será reverenciado, pois é o símbolo do militante honesto e sincero, de uma gente que não pensa só em si, pela qual suplicava Taiguara, um homem igual a imensa maioria que foi traída pelos que serão esquecidos..."

(Parou, pensou a eternidade de um minuto, sorveu a cerveja)

Levantou a cabeça, músculos do rosto endurecidos, agora olhando um a um os parceiros de vida: "Esquecidos não, os estúpidos também serão lembrados, mas por outras razões. Hoje riem da 'ingenuidade' do senador, há trinta anos riem, usaram, tornaram a usar, subestimaram, pois gentes fracas como eles só pensam em dinheiro, despreparo total, os larápios gananciosos, gentalhas que imitam pastores eletrônicos usando o povo da escuridão, ao ponto de confundir os sentimentos e a luta de uma alma  superior com seus rasteiros instintos. Mas o porvir fará justiça a Eduardo Suplicy".

O misto de tristeza, desencanto e ódio da sua voz, com a citação do nome do homem que desde sempre oferece a vida em troca de um novo país, sem os eikes batistas nem malufs, caiados, que quer escolas para diminuir gente bruta assim, que vem se matando, que está presente onde quer que a justiça falhe... calou o ambiente.

Silêncio. Gustavo Moscão fez um enorme esforço mas não conseguiu segurar as grossas lágrimas que  lhe desceram pela face contraída. Uns tossiram, visivelmente emocionados, outros se socorreram indo ao banheiro.

Todos o acompanharam no voto. O Ainda Espantado, por este que redige às pressas o cotidiano dos boêmios e por todo o povo da palafita que o acompanha, estrangeiros perfilados em pé - à frente o haitiano Aristide Neptune, pede licença aos desesperançados para subscrever na íntegra todas as lágrimas derramadas, à vista ou às escondidas.

Tintim, companheiro Suplicy. Mas chega de tolerar, senador, o motivo do bem maior, para suportar essa escória, já não existe. Acharemos para onde correr em defesa do Brasil e de nossas vidas, uma nova trincheira, trazendo, pela escola, todas as crianças injustiçadas, um dia com voz, um dia no mano a mano. O Brasil que sonhamos.

Não se entregue! O senhor jamais estará sozinho, estamos juntos, ombro a ombro, o País dos homens de bem acompanha emocionado a sua trajetória, o senhor sim, um ídolo de aço pela têmpera, claro como o dia, lejos dos ídolos de barro de uma funesta fábrica que os produz no vão da escada.

Salud!

  


Os empinantes do Botequim do Terguino, alheios à angústia que rondava o buteco-irmão - os de lá não quiseram incomodar, essa de atrasar avião ou perder o ônibus não é a primeira que Carlinhos Adeva apronta -, antes do meio-dia já tinham feito a sua escolha. Trataram de almas rudes. Como este blog é lido por crianças, não podemos declinar os substantivos, adjetivos, pejorativos e muitos alhas, ujos, elos, ões e utas proferidos. 

Ficaram com o Amâncio, de o Jornal de Hoje (Natal, RN).




Leilinha Ferro, a filha do Terguino e coordenadora da coluna (chefinha dos boêmios, nesse quesito), que a mucho tiempo deu de mudar de assunto se alguém fala em Rio mais vinte, silenciosamente optou pela obra do Dum. Ninguém deu um pio, salvo o Contralouco, sempre ele: "Ei, é a cara do Ronaldo Caiado!".




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