domingo, 24 de junio de 2012

Roberto Piva, o poeta da transgressão, na Casa de Cultura

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Pelo Blog da Tristeza (nada de tristeza, gente, o nome alude ao bairro Tristeza, na zona sul de Porto Alegre), do amigo Schumacher, tomamos ciência de um programa imperdível, na Casa de Cultura Mário Quintana.



Integrando o grupo de artistas, a nossa querida Piqui, poeta e atriz.

Roberto Piva, o poeta da transgressão é uma performance de teatro, música e dança, em homenagem ao poeta paulistano Roberto Piva, falecido em 03 julho de 2010. Homem múltiplo, de extrema erudição, Piva foi influênciado pela geração beat, pelo movimento surrealista e teve experiências com outras áreas do conhecimento como o xamanismo. Poeta furioso, com a garganta repleta de trovões, Piva é uma das vozes mais importantes da poesia brasileira contemporânea. Conta com trilha sonora original e executada ao vivo. A performance conta com os seguintes convidados: Piqui (teatro), Denis Cruz (teatro), Ana Arnold (dança), Lucas Duarte (violoncelo), e Tomás Piccinini (flauta transversa). A ambientação do local é da artista visual Eliane Bruél.

Na sequência da peça teremos o show autoral da banda Dionysios.

Entrada Franca
29 e 30 de junho e 1 de julho (20h)
Distribuição de senhas a partir das 19:30, no local.

Roberto Piva nasceu em São Paulo no dia 25 de setembro de 1937. Poeta ligado aos marginais dos anos 60, esteve na Antologia dos Novíssimos de Massao Ohno em 1961 e em 26 poetas hoje de Heloisa Buarque de Holanda. Foi professor na rede de ensino público, produtor de shows de rock e é um dos três únicos poetas brasileiros a ser citado no Dicionário Geral do Surrealismo publicado na França.


Praça da República dos Meus Sonhos

(Roberto Piva)

A estátua de Álvares de Azevedo é devorada com paciência pela paisagem
....de morfina
a praça leva pontes aplicadas no centro de seu corpo e crianças brincando
....na tarde de esterco
Praça da República dos meus sonhos
....onde tudo se faz febre e pombas crucificadas
....onde beatificados vêm agitar as massas
....onde García Lorca espera seu dentista
....onde conquistamos a imensa desolação dos dias mais doces
os meninos tiveram seus testículos espetados pela multidão
lábios coagulam sem estardalhaço
os mictórios tomam um lugar na luz
e os coqueiros se fixam onde o vento desarruma os cabelos
Delirium Tremens diante do Paraíso bundas glabras sexos de papel
....anjos deitados nos canteiros cobertos de cal água fumegante nas
....privadas cérebros sulcados de acenos
os veterinários passam lentos lento Dom Casmurro
há jovens pederastas embebidos em lilás
e putas com a noite passeando em torno de suas unhas
há uma gota de chuva na cabeleira abandonada
enquanto o sangue faz naufragar as corolas
Oh minhas visões lembranças de Rimbaud praça da República dos meus
....Sonhos última sabedoria debruçada numa porta santa.
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