miércoles, 22 de agosto de 2012

Propaganda eleitoral em Porto Alegre, dia um, na Charge do Dias

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A capital gaúcha apresentou-se radiante ontem à noite. Atmosfera estival, os boêmios de chinelos-de-dedos, bermudas e camiseta, cervejando em mesas da calçada. Lá pelas dez da noite haveria música no Botequim. Às dez porque esse foi o horário determinado pela prefeitura para terminar a música. De teimosos resolveram iniciar nesse horário, ninguém gostou do tom de voz do barnabé na visita que fizeram ontem à secretaria de indústria e comércio de Porto Alegre. Ainda bem que os boêmios deixaram o Contralouco e o Gustavo cuidando do buteco, de outro modo não iria prestar.

A teimosia tem suas razões: os bares da Rua da Olaria ficam abertos até às duas da manhã. E o Clubinho de caça da Venâncio Aires, esquina com a rua da Olaria, vai até às quatro, com brigas em frente, garrafadas, palavrões, taxistas, gritos, na vizinhança ninguém dorme. Este pode tudo, por alguma razão desconhecida. 


Lá dentro do bar os próprios, Contralouco e Gustavo Moscão, com a coordenadora Leilinha Ferro, solitários, se preparavam para assistir na tevê o primeiro dia da propaganda eleitoral gratuita. Leilinha ansiosa para ver o desempenho do candidato do PSOL, o Robaina. O Gustavo queria ver o Érico do PSTU, candidato da sua mulher, a professora Jussara.

Volta e meia alguém da cambada lá de fora metia a cara na janela e gritava: "Mas vocês têm estômago, hein!". O Moscão respondia botando a língua e fazendo uma rodinha com os dedos.

Na mesa central da calçada o filósofo Aristarco de Serraria comentava sobre o pedido de impeachment do ministro Toffoli, o advogado do PT, no Supremo Tribunal Federal. A turma o ouvia atenta: "É uma vergonha esse rapaz não se dar por impedido, hoje em dia ninguém tem mais pudor, e...".

Lá de fora se ouviu o estrondo de cacos espatifados: o Contralouco havia jogado uma garrafa na televisão. Corre-corre e ele lá, sentado: "Não foi nada, pessoal, é que não aguento ver a cara do Miudinho Fortunati".

Gustavo Moscão se impacientou com os amigos: "Ora, é só uma televisão, fiquem na de vocês lá fora, deixem a gente em paz aqui, nem quebrou a porcaria". 

De fato, a televisão resistiu, seguiu pendurada na parede lá em cima. A turma retornou para fora e agora foi Carlinhos Adeva quem tomou a palavra: "O nobre Ministrowski Complicadowski vai acompanhar o relator nas condenações aos pés-de-chinelos, mas na hora do Dirceuzowski é que vai dizer a que veio... Como aqui a maioria é leigo, vou simplificar: segmentação ou fatiamento do julgamento quer dizer que primeiro farão o juízo de culpabilidade, depois a dosimetria da pena, isto é, quantos anos de cana cada um vai pegar, que ficará para a segunda parte. Os adevas reclamaram do não acesso ao memorial do poço escuro de Júpiter, que era um papel velho e apócrifo, carcomido pela poeira cósmica. Os rábulas deveriam ter recebido voz de prisão no ato, por litigância de má-fé, e..."

Marquito Açafrão: "Só entendi que primeiro vão julgar se os caras são ou não culpados, para no final começarem tudo de novo, agora pra dizerem quantos anos de xilindró para cada um dos condenados. Mas esse Complikowski é convencido, metido a macho, pensa que engana alguém... tá com o voto pronto".

Lucas da Azenha, o boêmio que não bebe: "Tchê, não é bem assim, todos estão sob pressão, não creio que o Levandowski seja parcial... Com o voto pronto todos estão. Essa de forçar o retardamento do julgamento também não entendi, talvez seja um acerto de contas interno, vocês não sabem como é a politicalha do sistema judiciário".

Tigran Gdansk: "Acompanho a opinião do Carlinhos. Até acho que o Ministrowski vai livrar a cara de mais alguns, além do Dirceu. Aquele Mendes não livrou os banqueiros, na maior cara de pau?"

Mr. Hyde: "O cara que merece uma cadeira elétrica vai sair de lombo liso, é isso que vocês estão falando? Não acredito".

Outro estrondo lá dentro. Desta vez correram somente Terguino e António Portuga. Na volta António disse: "Agora foi uma cadeira, quando apareceu o Villão do PT, o Contralouco tá impossível".

Carlinhos Adeva passa a explicar a dosimetria da pena, no julgamento fatiado, ou segmentado, como preferem os vossas excelências.

Clóvis Baixo: "Por falar em dosimetria, Portuga, me traz uma dose dupla de uísque com rodelas de kiwi".

Nicolau Gaiola, o ator e dramaturgo da turma, recém chegado, não perde a oportunidade e batiza o trago de "Julgamento duplo fatiado". No fim a maioria concordou que a pena do José Dirceu ficará entre 90 e 130 anos de prisão.

Nesse momento o Contralouco passa furioso com a TV erguida sobre a cabeça, vai até a lixeira italiana e a joga com toda a força, gritando: "Deu pra ti, mentirosa!".

Leilinha Ferro vem para fora e explica: "O tadinho do tio Contralouco não aguentou quando apareceu a Manoela Namorida. Bem que fez, essa TV tava muito velha mesmo".

Hoje pela manhã Leilinha Ferro liberou geral. Com a primeira obra, homenageou a Mr. Hyde, pelo que disse ontem sobre os suecos. Com o grande Zop.




Depois todos homenagearam o início da propaganda eleitoral gratuita, essa roubalheira oficializada.

Com o Cazo, do Comércio do Jahu (Jaú, SP).





O Duke, de o Tempo (Belo Horizonte, MG).





O Paixão, de O Povo (Curitiba, PR).





O Pelicano, do Bom Dia (São Paulo, SP). (Com esta o Pelicano se superou, pessoal: formidável, diz tudo)





E com o Sponholz, do Jornal da Manhã (Ponta Grossa, PR).


(A coluna A Charge do Dias leva esse título pelo seu idealizador, o mestre Adolfo Dias Savchenko, que um belo dia se mandou para a Argentina, onde vive muito bem. Sucedeu-o na coordenação a jovem Leila Ferro, filha do Terguino, quando os boêmios amarelaram na hora de assumir o encargo. Antes eram dois butecos, o Beco do Oitavo e o Botequim do Terguino, que há poucos dias se..., bem..., se fundiram (veja AQUI), devido a dívidas com o sistema bancário, ou agiotário, como eles dizem. O novo bar manteve o nome de um dos butecos: por sorteio ficou Botequim do Terguino, agora propriedade dos ex-endividados António Portuga e Terguino Ferro.)






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